Por Carmo Rodeia
O mundo anda de pernas para o ar. Não, não é um desabafo daqueles genéricos e desconcertantes em que generalizamos contra a vida e disparamos em todas as direções. É antes uma constatação depois de ver tantas noticias que o mais elementar bom senso daria como “fakenews”, mas, infelizmente, parecem ser verdadeiras. E exemplifico apenas com uma: no inicio desta semana Donald Trump dizia que os EUA não deveriam receber pessoas das Bahamas, depois da tragédia que por lá se abateu, porque “nas Bahamas viviam pessoas muito más”. Certamente como as que vivem nos países do Médio Oriente, a que os EUA fecharam as fronteiras, ou as dos países da América Latina que se sujeitam a tudo para ter um palmo de terra em paz e com dignidade, a quem os Estados Unidos e outros com eles alinhados fecham sistematicamente a porta, erguendo os muros modernos da nossa vergonha.
Estas pessoas, que se dizem crentes e até se reúnem em nome de Deus, para levar os valores cristãos ao mundo, na hora da tomada de decisão, não o podem ter por companheiro, ou então, não fariam as declarações que fazem nem tomariam as opções que tomam. Pelo menos, se o Deus em que dizem acreditar é igual ao meu, companheiro em todos os momentos, sobretudo quando se assume responsabilidades e se tomam decisões que afetam o outro, no caso vertente, a paz no mundo, que começa com o respeito pela dignidade da pessoa humana.
Em meados do século passado, quando a ONU foi criada havia duas ameaças equivalentes no mundo: a energia atómica e a miséria. Aliás, ameaças que, em bom rigor, não são muito diferentes das de hoje e que, na altura, motivaram o discurso do Papa Paulo VI à Assembleia Geral das Nações Unidas onde afirmou que o “desenvolvimento era o novo nome da paz”, e , dois anos mais tarde, ter desafiado, em Fátima, os homens a serem homens.
Estamos longe desse desafio. E, estando longe dessa meta também estamos longe de Deus.
O esgotamento mundial de recursos não renováveis, a degradação do meio ambiente, a explosão demográfica em África, onde a fome grassa, os conflitos armados, o problema dos migrantes, somados às manifestações tempestuosas da natureza- terramotos, tsunamis, e outros- põem em causa a noção da sociedade de bem-estar, da dignidade humana respeitada e de esperança.
Por isso, quando olhamos para quem decide vemos o quão distantes estamos daquele que é o projeto de Deus para a humanidade. Pura e simplesmente porque os valores das coisas foram trocados pelos preços das coisas e os valores fundamentais foram trocados por valores instrumentais, que desafiam a escala de valores cristãos, assente no bem comum e na dignidade humana, que faz com que cada um de nós, cada ser humano, tenha um valor irrepetível e insubstituível na história da humanidade, independentemente de ter nascido nas Bahamas, no Médio Oriente, na América Latina, ou nos Açores.
Na Mata José do Canto, à beira da Lagoa das Furnas, em São Miguel, existe uma sequoia, que como todas as sequoias é gigante.
As sequoias são árvores imponentes, que pela sua longevidade são consideradas fósseis vivos. A mais velha que é conhecida tem 4.650 anos e encontra-se no Parque Nacional da Sequoia, na Califórnia. Grande ironia!
Esta árvore tem uma particularidade, para além da sua morfologia especifica que é muito interessante: partilha com todas as outras sequoias da mesma floresta uma raíz comum porque apenas se reproduz através das sementes contidas nos ramos. Estas sementes podem demorar até 21 anos a crescer nos ramos e para germinar necessitam de um solo mineral húmido.
É curioso ver uma floresta de sequoias pois elas agrupam-se quase em círculos, isto é, são vários corpos a partir de uma só raíz. Acresce que são árvores com grande capacidade de resistência a doenças e a outras ameaças naturais, inclusive o fogo.
A natureza pode dar-nos lições todos os dias. Infelizmente há homens que além de não conseguirem interpretar a história, insistem em repeti-la sem se importarem com os danos causados. Tenho para mim que terão de se reunir mais vezes. Mas, não se esqueçam do Evangelho.