A viagem do Papa Francisco a Moçambique, Madagáscar e Maurícia, que se encerrou hoje, ficou marcada, na opinião de dois missionários portugueses pelas mensagens em favor da paz e justiça social.
Frei Armindo Carvalho, atual ministro provincial dos Franciscanos em Portugal, foi missionário em Moçambique entre 1966 e 2004, tendo acompanhado com particular atenção a passagem do Papa pelo país lusófono, na expectativa de que possa dar vida a um real acordo de paz, um sonho para uma população “massacrada por interesses” alheios.
A 1 de agosto, o presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Ossufo Momade, assinaram um acordo de cessação das hostilidades, para o fim formal dos confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.
“Um marco, que saudamos e esperamos decisivo, plantado pelos corajosos na senda da paz que parte daquele Acordo Geral de 1992 em Roma”, declarou Francisco, em Maputo.
Frei Armindo Carvalho evoca um país com riquezas naturais, marcado pela instabilidade política, apesar do seu povo “pacífico e fraterno”, e destaca a mensagem de “reconciliação” deixada pelo Papa.
O religioso franciscano sublinha ainda o encontro com a juventude moçambicana, “generosa e alegre”, que precisa de “modelos de vida”.
Em relação à vida da Igreja Católica, o entrevistado refere à Agência ECCLESIA que foi visível o “encanto e entusiasmo” dos momentos de celebração litúrgica.
“Hoje são os próprios moçambicanos que são missionários” nas comunidades católicas, com uma atividade “muito forte” dos leigos, acrescenta.
O Papa encerrou a sua quarta viagem ao continente africano esta manhã, na nunciatura em Madagáscar, onde saudou uma dezena de idosas pobres, representando as pessoas assistidas todas as sextas-feiras pela representação diplomática em Antananarivo.
O padre Joaquim António Magalhães, religioso dehoniano que foi missionário na maior ilha africana, destaca o “banho de multidão” que Francisco recebeu, fruto do “crescimento espantoso” do Cristianismo.
“Os malgaxes dão uma grande importância às mediações”, dos homens que “estão ao serviço de Deus e da Igreja”, precisa.
O religioso português fala de uma comunidade católica muito presente no território através da sua ação social, as suas escolas e hospitais, além de todo o trabalho em favor da “pacificação” e da normalização da vida política, afetada por vários golpes de Estado.
Outro foco de preocupação é a “destruição da floresta”, como foi sublinhado pelo Papa.
Para o padre Joaquim António Magalhães, a Igreja “tem uma responsabilidade muito importante”, para a construção da justiça social.
“O problema de fundo é a pobreza”, com uma “minoria a explorar a maioria”, denuncia.
O Papa volta a Roma depois de pedir, em África, caminhos inovadores capazes de questionar o atual modelo económico-financeiro, tornando os povos protagonistas da construção de um futuro mais justo, mais solidário, mais respeitador da dignidade da vida, da natureza, das culturas e das tradições.
(Com Ecclesia)