Pelo Pe. Hélder Miranda Alexandre
«Há tempo, um amigo perguntou-me o que vejo quando penso num jovem. A minha resposta foi que “vejo um rapaz ou uma rapariga que procura o seu próprio caminho, que quer voar com os pés, que assoma sobre o mundo e olha o horizonte com os olhos cheios de esperança, cheios de futuro e também de ilusões”» (Christus vivit, 139).
Essa juventude de um coração cheio de vida é o lugar teológico da vocação, que tão bem nos retrata o Papa Francisco. A mensagem da 56ª Semana de Oração pelas Vocações, “a coragem de arriscar pela promessa de Deus”, coloca-nos na aventura do encontro de um desafio tremendo e de uma alegria sem fim. Apresenta-nos dois pares de irmãos, Simão e André, com Tiago e João. “Em certos dias, a pesca abundante recompensava da árdua fadiga, mas, outras vezes, o trabalho duma noite inteira não bastava para encher as redes e voltava-se para a margem cansados e desiludidos. Estas são as situações comuns da vida, onde cada um de nós se confronta com os desejos que traz no coração, se empenha em atividades que – espera – possam ser frutuosas, se adentra num «mar» de possibilidades sem conta à procura da rota certa capaz de satisfazer a sua sede de felicidade. Às vezes goza-se duma pesca boa, enquanto noutras é preciso armar-se de coragem para governar um barco sacudido pelas ondas, ou lidar com a frustração de estar com as redes vazias. Como na história de cada vocação, também neste caso acontece um encontro”.
Esta é a razão pela qual periodicamente rezamos e meditamos na vocação. Não pode ser um entre vários eventos, mas o centro da Pastoral da Igreja. De que serve realizar tantas ações se tudo isso não nos leva a Cristo? Contudo, existem debilidades que enfraquecem um caminho de Pastoral Vocacional. Em primeiro lugar, a Teologia da Vocação está associada a imagens mentais preconceituosas, muitas vezes reduzidas ao simples conceito de “recrutamento de sacerdotes e religiosos”. Um termo desconfortável e obsoleto. Por isso, ela tem de ser alterada para um significado global, invocando um salto de qualidade, na qual a vocação diz respeito a todos os géneros de vida cristã. Por outro lado, há que saber superar a fragmentação pastoral. A pastoral das vocações não é tarefa de uns delegados ou especialistas, de uma religiosa ou de um sacerdote que têm a incumbência de fazer umas coisas. É uma vocação eclesial comum, que deve estar em todo o apostolado. Outro desafio será o de superar a introspeção excessiva e passar a entender a vocação como missão, incrustada na realidade, na História de cada um e da comunidade. Finalmente a pastoral vocacional não é só juvenil, mas é para todas a idades e para toda a vida!
Nesta Semana há que revigorar esta tarefa, deixar-se apaixonar-se novamente por Cristo e sobretudo ir à fonte! O processo do discernimento reconduz-nos a Cristo. É a coragem de ser filho de um Deus vivo! É a
simplicidade de quem está sempre a aprender, e cujo caminho tem de se percorrer pessoalmente antes de orientar outros a seguir (ChV 298). Se a pastoral vocacional não funcionar é porque não estamos apaixonados a sério.