Sacerdote faleceu este domingo
Decano dos párocos no ativo, na diocese de Angra, agora com 84 anos de idade e 60 de sacerdócio o Pe José Alves Trigueiros, pároco na Fazenda, na ilha das Flores, repartia o seu tempo entre duas paixões: o sacerdócio e a fotografia. Florentino, exerceu o seus ministério em três ilhas- Pico, Terceira e agora Flores.
Olhava para a diocese “como um todo”, mas espera que quem decide também a olhe assim.
Em entrevista ao Sítio Igreja Açores, fala sobre a transição de prelado, que vê com naturalidade e em dezembro de 2015, analisou as diferenças verificadas ao longo de meio século na igreja açoriana. A começar pela inspiração conciliar. Recuperamos aqui as ideias principais dessa conversa.
Não é o sacerdote mais velho da região, porque há outros ordenados antes, mas é o que se mantém no ativo com uma paróquia a seu cargo. Como é que viveu todos estes anos o sacerdócio?
Pe. José Trigueiros- Estive 12 anos no Seminário de Angra a preparar-me para o Sacerdócio. No nosso tempo não havia as distrações que existem hoje, por isso, talvez, a nossa atenção concentrava-se mais no nosso trabalho.
Nas diferentes paróquias onde trabalhei procurei dar o meu melhor por Deus e pelo Povo Cristão.
Antes do Concílio Vaticano II as missas eram em latim, mas quase todo o Povo comparecia às celebrações, embora não pudesse ser muito ativo. Havia 10 Padres na Ilha das Flores, as missas eram todas do lado da manhã, salvo raras exceções.
Depois do Concílio as Missas passaram a português. Começou-se a ensinar e a ajudar os presentes a serem mais ativos, com cânticos simples em português, que toda a Comunidade procurava cantar.
Também fui professor muitos anos, nos Externatos de Santa Cruz das Flores e Lajes do Pico e depois em escolas públicas na Ilha Terceira, Assim estava em contato com muitos jovens e seus familiares.
Agora, nas Flores, embora tenha só uma paróquia, colaboro com as outras quando necessário.
No exercício do seu ministério conviveu com vários prelados. Todos diferentes mas todos com a mesma perspetiva de servir o povo de Deus. Que dificuldades sentiu no relacionamento com cada um deles?
Pe José Trigueiros- Nunca senti qualquer dificuldade no relacionamento com os prelados da nossa Diocese.
É pároco na Fazenda, ilha das Flores. Uma ilha periférica, ou para utilizar uma expressão emprestada da política, ultraperiférica. O Papa Francisco não se cansa de pedir aos sacerdotes e aos leigos para não ignorarem as periferias, quaisquer que elas sejam. Como sente e vive esta periferia geográfica que acaba naturalmente por criar outras periferias?
Pe José Trigueiros- A periferia geográfica, hoje em dia, sente-se pouco, a não ser nas viagens ou algumas compras. Antigamente havia um barco por mês para as Flores. As importações eram mínimas, pois todas as famílias tiravam da terra tudo o que era preciso para a alimentação e o vestuário era quase todo feito na ilha. Hoje em dia, com a técnica das comunicações, deixou de se sentir essa periferia.
No aspeto pastoral o trabalho é semelhante ao das outras ilhas, mas nos últimos anos os padres in solidum têm feito um excelente trabalho, não apenas em cada freguesia mas também levando as pessoas a pensar e a acreditar que o melhor é uma pastoral de conjunto porque cada freguesia já tem pouca população. No entanto, os padres «in solidum» fazem o melhor possível por atender a todos os que aparecem menos, mas as freguesias são as mesmas com as mesmas distâncias e os padres são poucos e com outras ocupações nas Santas Casas, Girassol e nas Escolas.
Como ocupa o seu dia a dia para além da vida paroquial?
Pe José Trigueiros- Leio alguns livros de formação, ordeno e digitalizo alguns trabalhos fotográficos, vejo alguns canais religiosos de TV, como a Canção Nova, Telepace, Padre Pio TV e outros, e também alguns canais nacionais e a RTPA, e faço outros pequenos trabalhos.
O papel do padre, do ponto de vista social, é cada vez mais exigente, sobretudo atendendo aos problemas que as pessoas vivem. Que exigências se lhe colocam hoje que não tinha quando foi ordenado?
Pe José Trigueiros- Antigamente as pessoas viviam mais do seu trabalho agrícola. Era trabalho manual com poucos instrumentos e rudimentares. Havia trabalho para todos e a terra dava o necessário para a alimentação.
Hoje em dia, muitas famílias deixaram a agricultura, as máquinas agrícolas facilitaram o trabalho. Muitas pessoas passaram a ter um emprego nos serviços públicos ou outros, dependendo as suas despesas apenas do ordenado, e a sua alimentação das compras de bens importados. Faltando ou descendo o ordenado as famílias passaram a ter necessidades suportadas por diversas ajudas, onde procuro também colaborar.
A partir das Flores certamente que a noção de diocese é muito diferente. Como é que vê a igreja açoriana hoje?
Pe José Trigueiros- Antigamente os padres nas Flores eram todos das Flores, as deslocações eram difíceis.
A noção de igreja açoriana era diferente para eles. Agora os 3 padres «in solidum» são de outras ilhas, portanto com ideias diferentes. Eu também estive 10 anos na ilha do Pico e 26 na ilha Terceira, por isso a minha ideia de igreja açoriana é uma ideia de conjunto. Agora os padres são poucos mas cada um faz, em cada ilha, o melhor que é possível. È necessário que os leigos sejam bem formados para colaborarem mais numa vida ativa, por Deus e pela igreja na comunidade.
Estamos em vésperas de acolher um novo prelado. É uma Graça. Como está a viver esta mudança, por assim dizer?
Pe José Trigueiros- Estou a viver com naturalidade. Como padre já vivi com 3 prelados. Agora é apenas mais um. O seu trabalho será diferente porque os tempos são diferentes e as circunstâncias também vão mudando sempre, mas todos são chamados a servir o povo de Deus dispensando-lhe as melhores graças e bens divinos.
O clero é, naturalmente, o conselheiro privilegiado dum bispo. Se tivesse de fazer algumas sugestões, que dicas daria para que o governo da diocese fosse, ainda, mais próximo e mais presente junto de todas as comunidades?
Pe José Trigueiros- A minha sugestão para a ilha das Flores, seria que, embora periférica geograficamente, fosse considerada como parte integrante da diocese, e por isso, fosse aceite como igual às outras ilhas na colocação dos padres, para a continuação do bom trabalho pastoral que tem sido feito nos últimos anos.