III Jornadas de Teologia- Arte, expressão que transcende

Pelo P. Hélder Miranda Alexandre

As III Jornadas de Teologia, promovidas pelo Seminário de Angra, e subordinadas ao tema: “arte, expressão que transcende”, que decorrem entre 20 e 22 de Março, pretendem dar um humilde contributo para uma reflexão crítica e ponderada acerca dos desafios que a arte nos coloca na relação com a mensagem cristã. Quando se define que a arte é a ciência do irrepetível, diz-se algo de eternidade. Por isso mesmo, pode-se encontrar na mesma um pouco desse desejo e tocar os sonhos de Deus.

A História da arte cristã mostra uma alternância de tendências que poderíamos chamar de imanência e transcendência, uma autêntica oscilação entre o gosto pela imagem e a preferência pelo sinal simbólico. As atitudes extremadas da idolatria (em que se perde o significado) e da iconoclastia (em que se perde o significante), não cabem nesta gramática, como, arduamente, nos ensina a História.

Por isso, o cristianismo aprendeu a abrir canais de expressão a essas duas fundamentais potencialidades do ser humano: a sensibilidade e o espírito. Os conflitos que angustiam a vida pessoal do cristão polarizam-se à volta da tensão entre a sua sensibilidade e a sua razão, com o intuito de legitimar a vida do sentido sem que o espírito seja atraiçoado.

Por outro lado, o Homem contemporâneo apresenta novas formas de expressão artística que expressam, a seu modo, a transcendência, e que constituem o lugar teológico para que a fé cristã se exprima, se viva com intensidade, e ultrapasse um revivalismo empobrecido.

Como afirmava Simone Weil: “Em tudo o que suscita em nós o sentimento puro e autêntico da beleza, há realmente a presença de Deus. Há quase uma espécie de encarnação de Deus no mundo, da qual a beleza é o sinal. A beleza é a prova experimental de que a encarnação é possível. Por isso qualquer arte de categoria é, por sua essência, religiosa”[1].

Bonum diffusivum sui est. As categorias do bem e do belo atraem, não se impõem. Não será este um caminho privilegiado de evangelização? Perder este meio é negar a própria história da fé cristã, que legou à humanidade espaços e tempos de beleza ímpar.

[1] Papa Bento XVI, Discurso por ocasião do encontro com os artistas na Capela Sistina, 21 Novembro 2009.

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