Festividades antecipam tempo de jejum, partilha e penitência rumo à Páscoa
O dia de carnaval, que se celebra na terça-feira, dia 5 de março, está ligado ao início do tempo da Quaresma, com as Cinzas, em datas determinadas pela Páscoa.
A maior festa cristã, que evoca a Ressurreição de Jesus, é celebrada no domingo após a primeira lua cheia que se segue ao equinócio da primavera, no hemisfério norte.
Perante práticas pré-cristãs, a Igreja Católica viria a promover alterações que permitissem ligar o período carnavalesco com a Quaresma.
Uma prática penitencial preparatória da Páscoa, com jejum, começou a definir-se a partir de meados do século II; por volta do século IV, o período quaresmal caracterizava-se como tempo de penitência e renovação interior para toda a Igreja, por meio do jejum e da abstinência.
Tertuliano, São Cipriano, São Clemente de Alexandria e o Papa Inocêncio II contestaram fortemente o carnaval, mas no ano 590 a Igreja Católica aprova que se realizem festejos que consistiam em desfiles e espetáculos de caráter cómico.
No séc. XV, o Papa Paulo II contribuiu para a evolução do carnaval, imprimindo uma mudança estética ao introduzir o baile de máscaras, quando permitiu que, em frente ao seu palácio, se realizasse o carnaval romano, com corridas de cavalos, carros alegóricos, corridas de corcundas, lançamento de ovos, água e farinha e outras manifestações populares.
Sobre a origem da palavra carnaval não há unanimidade entre os estudiosos, mas as hipóteses “carne vale” (adeus carne) ou de “carne levamen” (supressão da carne) remetem para o início do período da Quaresma.
A própria designação de entrudo, ainda muito utilizada, vem do latim ‘introitus’ e apresenta o significado de dar entrada, começo, em relação a um novo tempo litúrgico.
Na diocese de Angra o Carnaval é particularmente vivido na ilha Terceira.
Entre este sábado e terça-feira de Carnaval, 8 dezenas de grupos amadores de teatro, integrando cerca de 2 mil atores, percorrem a ilha atuando, de forma gratuita, em mais de 30 salas de espetáculos, até de madrugada, com manifestações que aliam a música ao teatro em rima.
As manifestações de teatro popular tradicionais da ilha Terceira, compostas por períodos musicais e teatrais, dividem-se em danças de pandeiro, bailinhos e comédias, que apresentam temas para fazer rir e em danças de espada, que abordam temáticas menos ligeiras. É uma das maiores manifestações culturais do povo terceirense e uma das mais originais em todo o país.
Noutras ilhas, na Graciosa, em São Jorge, Sta.Maria, Pico, Faial, Flores e Corvo, são os bailes e matinés nas sociedades que recebem centenas e centenas de pessoas que, com trajes de carnaval e fantasias, `entrudam´ em alegres convívios, acompanhados com os doces típicos da época: filhoses, malassadas e coscorões, sem esquecer os licores e as bebidas típicas das ilhas.
Em São Miguel os tradicionais bailes no Coliseu Micaelense, duram há muitas dezenas de anos, com milhares de pessoas vestidas de smoking, dançando até às tantas. A folia dura até terça feira.
Os católicos de todo o mundo começam na quarta-feira a viver o tempo da Quaresma, com a celebração das Cinzas, que são impostas sobre a sua cabeça durante a Missa.
Este é um período de 40 dias, excetuando os domingos, marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, que serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário cristão.
A Quarta-feira de Cinzas é, juntamente com a Sexta-feira Santa, um dos únicos dias de jejum e abstinência obrigatórios – e este ano, nem a coincidência com o ‘Dia dos Namorados’ leva a dispensar este preceito.
O jejum é a forma de penitência que consiste na privação de alimentos; a abstinência, por sua vez, consiste na escolha de uma alimentação simples e pobre.
A sua concretização na disciplina tradicional da Igreja era a abstenção de carne, particularmente nas sextas-feiras da Quaresma, mas pode ser substituída pela privação de outros alimentos e bebidas, com um caráter penitencial.
Nos primeiros séculos, apenas cumpriam o rito da imposição da cinza os grupos de penitentes ou pecadores que queriam receber a reconciliação no final da Quaresma, na Quinta-feira Santa.
A partir do século XI, o Papa Urbano II estendeu este rito a todos os cristãos no princípio da Quaresma.
Na Liturgia, este tempo é marcado por paramentos e vestes roxas, pela omissão do ‘Glória’ e do ‘Aleluia’ na celebração da Missa.
(Com Ecclesia e Lusa)