Por Renato Moura
O António Castelo era um dedicado sócio duma sociedade cultural e recreativa e empenhado empregado do respectivo bar. Certa vez falando-me a propósito de um evento, no qual se previa que o Presidente faria um discurso, confidenciou-me a sua preocupação, pois considerava que seria um fiasco, dado que o orador não tinha capacidade para isso. Não se conformou perante a minha afirmação de que a vergonha seria do discursador e alegou, convictamente, que como sócio a vergonha era também sua, pois que aquela era a sua colectividade!
Por estes dias tenho-me lembrado muito do Castelo.
Outro dia faleceu, num concelho desta ilha, um homem de mais de 92 anos, que outrora foi presidente da respectiva Câmara Municipal, mas o actual presidente não participou no funeral!
Já depois, no outro concelho desta ilha, duas freguesias ficaram completamente isoladas, por causa de uma enorme derrocada que tornou a estrada intransitável. Ouvido pela RDP Açores, o Presidente da Câmara, também ele primeiro responsável da protecção civil, apenas falou sobre o que julgava saber, pois ainda não tinha lá posto os pés! Ao mesmo tempo era noticiado que a Secretária Regional dos T. e Obras Públicas e o Director Regional do sector já tinham partido de avião de S. Miguel para as Flores.
O Presidente da República Portuguesa deslocou-se ao Brasil, para participar na tomada de posse do novo Presidente do país. Ouvi o Presidente português aproveitar a ocasião, para de lá lembrar os factos que ele valoriza da sua própria tomada de posse, há uns anos!
Dias depois, quem quis viu o Presidente da República, após interromper uma reunião, telefonar a uma apresentadora na estreia de um programa de entretenimento num canal de televisão, para lhe desejar sucesso, depois de uma badalada transferência de um canal da concorrência! A apresentadora até se mostrou emocionada! Não vem agora ao caso discutir a qualidade, ou a falta dela, desse programa, ou o gosto dos portugueses por certos temas, ou sequer a duvidosa escolha do que se apresenta para tentar ganhar a guerra das audiências.
O que somos é forçados a nos confrontar já, com episódios, teoricamente improváveis e impensáveis, duma candidatura de Marcelo para a reeleição! E só para quem tivesse dúvidas, estamos a ver um Presidente louvado por ser popular, a transformar-se num populista, o que é absolutamente lamentável.
É de questionar: Que deveres impõem as funções?! Que honra é devida aos falecidos?! Que respeito merecem os vivos?!
Realmente o Castelo tinha razão. Que Deus o tenha.