É reconhecida a grandeza de quem recebe em sua casa. Os gregos disseram-nos isso. Está escrito na Odisseia. “Um hóspede e um suplicante valem como um irmão para qualquer pessoa”.
O Evangelho ensina-nos que o amor é a forma incondicional de hospitalidade.
“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”!
Esta proposta aponta-nos um caminho de vida assente, em primeiro lugar, na ideia do outro.
Tenho para mim que a vida nunca se resolve isoladamente. Sozinhos até ficamos aquém de nós próprios. É na relação e no encontro que nos construímos e realizamos.
Os apelos sucessivos do Papa Francisco a uma “cultura do encontro” que agora a igreja diocesana nos Açores propõe são, por isso, muito estimulantes e constituem um desafio que a todos convoca, não por encerrar uma novidade de conteúdo mas porque antecipa uma atitude diferente.
Hoje, não basta abrir a porta da nossa casa e sermos hospitaleiros.
As chamadas do dia a dia são tantas que, muitas vezes, alteram prioridades. E a da fé, a do encontro com o outro são exemplo do que pode ficar para trás.
Movidos pelo individualismo e pelo cansaço da labuta diária, por vezes, esquecemo-nos facilmente do outro que pode estar dentro de casa, na casa do lado, ao fim da rua ou no começo de uma vida qualquer.
A ideia do encontro tem de começar em nós mesmos. Em criarmos essa necessidade. Em dispormo-nos a estar lá. No fundo, o que nos é proposto não é uma revolução política ou ideológica mas tão só um convite a contrariarmos o individualismo culturalmente dominante, entendendo a nossa vida como serviço ao outro.
Dar a vida é isto: é estarmos disponíveis a toda a hora para o outro, nesse encontro, onde só perdemos aquilo que efetivamente não damos.
Ser hospitaleiro é, hoje, saber ir ao encontro, mesmo que para isso tenhamos de abandonar o espaço onde nos sentimos confortáveis e protegidos.
A saída é um risco, mas vale sempre a pena. Por nós, mas sobretudo, pelos outros!
Carmo Rodeia