A verdade é incómoda mas não pode ser omitida, defende Yago de La Cierva

Professor da Universidade de Santa Cruz, em Roma, refletiu sobre a comunicação da igreja em tempo de crise

Por mais incómoda que seja a verdade ela tem que ser enfrentada, denunciada e explicada, referiu esta manhã Yago de La Cierva, professor da Universidade Pontificia de Santa Cruz, em Roma.

O investigador, que falava no âmbito do arranque da IV Jornada Diocesana de Comunicação Social, promovida pela diocese de Angra, que decorre esta sexta feira em Ponta Delgada, no Centro Pastoral Pio XII, analisou a comunicação da Igreja, a partir de uma situação de crise, nomeadamente o caso dos abusos sexuais de menores que implicam a igreja e que têm feito várias primeiras páginas na agenda dos media em geral.

“Precisamos de esclarecer o que é verdade e o que não é verdade para ultrapassarmos uma história de sombra e de luzes” disse a propósito da reflexão que fez sobre a publicitação dos casos de abusos de menores nos Estados Unidos, na Austrália e na Alemanha, “um tema desagradável, que nos causa dano mas que tem de ser enfrentado até ao fim”.

“Só assim conseguiremos restaurar a confiança na Igreja” referiu.

Yago de La Cierva, que falou do problema comunicacional que envolve a Igreja Católica em situações de crise, sublinhou a importância dos comunicadores da Igreja identificarem bem o problema, enquadrá-lo no contexto social, apresentar as estratégias de combate ao flagelo e romper com mitos.

“Os abusos constituem um problema social, transversal à sociedade e que não é exclusivo da Igreja, mas para o qual a igreja não pode ficar indiferente ou calada e a igreja tem de ser capaz de contar o que está a fazer para a sua própria conversão, rompendo com mitos, como por exemplo o que se estabeleceu entre o celibato e o abuso de menores”, disse o palestrante.

No essencial, “trata-se de apresentar os dois lados da história que é a obrigação dos jornalistas, não ficando apenas nos aspectos negativos mas também apresentando o outro lado da história, porque há sempre um outro lado”, afirmou.

“Não temos receitas porque tudo é novo mas devemos enfrentar a verdade, compreendê-la e justificá-la mostrando o que estamos a fazer para a ultrapassar, sobretudo quando lidamos com realidades tão complicadas e dolorosas como este do abuso de menores”, esclareceu.

“É um tema duro e desagradável, mas que a igreja tem de clarificar. Só assim será restabelecida a confiança que é afinal o que procuramos”.

O investigador trouxe à reflexão dados sobre os abusos de menores, que atingem 12% da juventude em todo o mundo, e lembrou que a questão é socialmente transversal, com contornos que atingem também o campo político, social e económico , embora seja “uma questão menos referenciada”.

A IV Jornada Diocesana de Comunicação, que decorre durante o dia de hoje em Ponta Delgada, está centrada em “Comunicar Periferias, verdade e esperança”.

 

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