Bispo de Angra desafia seminaristas a aprenderem a fazer a experiência da “comunhão” e da “humildade”

D.João Lavrador presidiu à Missa de ação de graças pelo inicio do ano letivo, que arranca com 22 alunos, e lembrou que os padres são “os fazedores das comunidades” e não “freelancers ou vedetas da pastoral”

O bispo de Angra exortou os seminaristas diocesanos a fazerem a experiência da comunhão e da humildade. Na homilia da Missa a que presidiu, de ação de graças pela abertura de um novo ano letivo no Seminário Episcopal, celebrada esta terça feira, o prelado lembrou que é no tempo de formação que se aprende a fazer comunidade.

“Nós estamos a formar-nos para sermos ordenados e para sermos configurados dentro do presbitério. Esta é a nossa grande família: somos uma comunidade e o que  vós sois agora é o que ireis ser mais tarde” disse D. João Lavrador.

“ O sacerdote não é o único na comunidade cristã mas tem um papel imprescindível e preponderante. A ele pertence presidir , orientar, alimentar, promover… ele é rosto da igreja e vale a pena perguntar neste tempo qual é a imagem de igreja queremos dar” afirmou o responsável pela igreja do arquipélago dos Açores.

O prelado, que presidiu pelo terceiro ano consecutivo à abertura do ano letivo no Seminário, que designa frequentemente como o `Coração da Diocese´, deixou uma interpelação aos 22 seminaristas:  “Queremos responder à pessoa de hoje, queremos estar em sintonia com a igreja? Porque nós estamos na igreja, estamos integrados não somos sozinhos, nem candidatos a ser freelancers ou  vedetas da pastoral…a verdadeira evangelização faz-se connosco integrados na igreja, em comunhão com a igreja porque é nessa comunhão que somos capazes de ser pastores e de evangelizarmos”.

Para o bispo de Angra só com a experiência da comunidade o sacerdote fará o que lhe compete: “formar e fazer novas comunidades evangelizadas”, disse.

“Que bom seria um padre dizer, quando saísse do Seminário: eu não posso viver sem estar em comunidade…e depois ser comunidade missionária”, esclareceu lembrando que esta comunhão faz-se a partir da humildade e da sabedoria.

“Precisamos de pessoas inteligentes, com criatividade, com vontade, com capacidade de liderança mas sobretudo precisamos de pessoas com sabedoria e se formos buscar a ligação entre o presbítero e a sabedoria,  vemos que ambas estão ligadas” frisou ainda.

“São necessários homens de sabedoria. Todos nós temos que pugnar por crescer na sabedoria, na humildade e na comunhão com Deus” disse ainda aconselhando a uma vida que se sedimente “no estudo, na autenticidade, na transparência e na vida uns com os outros, tendo sempre em mente uma comunidade missionária, com vista a uma espiritualidade forte”.

“Estamos a preparar-nos para um mundo com muitas solicitações  e só a sabedoria nos permite caminhar, conhecendo e aprofundando a palavra de Deus. Estamos aqui para cumprir a palavra de Jesus” concluiu D. João Lavrador.

O bispo afirmou que é uma “grande alegria” ver o trabalho vocacional que está a ser desenvolvido e que se deve, em grande medida, ao Seminário, às famílias e à igreja em geral.

O Seminário arrancou mais um ano letivo com quatro novos alunos, de São Miguel, do Pico, do Faial e das Flores.

“O ato destes quatro jovens é fruto da decisão deles… um ato de coragem, mas é também motivada pela ação de várias entidades: a família e a igreja” disse referindo-se aos novos alunos.

“A vocação sacerdotal é o auge de um trabalho de evangelização e a vitalidade de uma comunidade cristã”, disse ainda.

“Uma paróquia que não desperta vocações durante um largo período de tempo deve questionar-se sobre o trabalho que está a desenvolver… uma diocese que não tenha as vocações tem que se perguntar o que está a fazer e a própria família… se entre as variadas vocações que apresenta aos seus filhos,  não existirem vocações sacerdotais também tem que se questionar” concluiu sublinhando a importância da caminhada espiritual que é proposta e acompanhada pelos professores do Seminário.

O Seminário vai apostar este ano no ensino à distância, com a utilização das novas tecnologias na lecionação de aulas ministradas por professores que se encontram noutras ilhas.

O Seminário conta com a colaboração de alguns professores que não residem na ilha Terceira e o sistema adotado até agora foi o da concentração das aulas em períodos muito intensivos com claro prejuízo para quem se desloca mas sobretudo para os alunos.

“Este ano vamos adotar aquilo que já se faz também noutras academias”, disse ao Igreja Açores o Reitor, Pe. Hélder Miranda Alexandre, que é as aulas serem ministradas nos seus horários e tempos letivos normais e regulares “com claras vantagens para todos”.

“Felizmente temos muitos docentes preparados para lecionar determinadas matérias mas devido à condição arquipelágica nem todos estão na ilha Terceira e isso causa alguns constrangimentos materiais mas sobretudo de organização do trabalho”, acrescentou o responsável que está confiante no sucesso desta medida “tendo em conta sobretudo o bom aproveitamento dos alunos”.

Uma das disciplinas onde esta prática vai ser já implementada é a de História da Igreja que será ministrada, maioritariamente,  via Skype pelo Cónego Adriano Borges, a partir de São Miguel.

Durante este ano letivo voltará também ao Seminário o Cónego Ângelo Valadão, vigário Episcopal para a Formação, que irá ensinar os documentos fundamentais do Concilio Vaticano II.

O tema do “discernimento vocacional” continuará a ser a trave mestra para toda a ação neste ano letivo com o reforço das matérias relacionadas com esta temática, nomeadamente ao nível da avaliação psicológica.

“[Discernimento] Tem sido sempre uma preocupação e este ano vamos reforçá-la com um acompanhamento diferente dos nossos seminaristas, mais personalizado, mais centrado no acompanhamento espiritual, sem descurar naturalmente as componentes pedagógica e académica”, explicou o reitor da casa de formação.

Em novembro vai ser ordenado diácono um aluno do 6.º ano, Fábio Carvalho, natural da Ribeira Grande.

O Seminário de Angra está igualmente implicado na formação continua de sacerdotes durante este ano pastoral que começa no primeiro fim de semana de outubro. Dois dos seus elementos da equipa reitoral fazem parte do conselho cientifico do Instituto Católico de Cultura e por isso são responsáveis por ministrar alguns dos conteúdos já preparados e dirigidos aos sacerdotes.

(Com André Furtado)

 

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