É urgente rever a linguagem da igreja em matéria de sexualidade, diz professor de Teologia Moral

Pe. Júlio Rocha valoriza decisão do Papa Francisco de convocar conferências episcopais para discutir questões dos abusos sexuais praticados dentro da igreja

O Papa Francisco convocou os presidentes de todas as Conferências Episcopais do mundo para um encontro no Vaticano, de 21 a 24 de fevereiro de 2019, dedicado ao tema da “proteção dos menores”, uma iniciativa que foi valorizada como  “muito importante” pelo professor de teologia Moral do Seminário Episcopal de Angra.

“As desculpas  (pelos abusos de menores) não são suficientes… é preciso fazer alguma coisa e este encontro tem uma dimensão jurídica que, não tendo a importância de um sínodo ou concílio, será muito importante para se tomarem medidas concretas que possam devolver a boa imagem da igreja” e que “ permitam a sua purificação” afirma o Pe. José Júlio Rocha ao programa de Rádio Igreja Açores que vai para o ar amanhã, dia 16, a partir do meio dia, no Rádio Clube de Angra.

O sacerdote que é também o assistente da Comissão diocesana Justiça e Paz e leciona várias cadeiras no Seminário de Angra sublinha que este é um problema “gravíssimo” e o “importante é purificar a igreja”.

“A mim pessoalmente, este assunto, deixa-me profundamente constrangido, revoltado, indignado e  desconfortável … não é  só a imagem daqueles que praticaram o mal que foi feito às vitimas- e essas devem ser a nossa prioridade- , e que é brutal, mas a imagem com que a Igreja ficou. Sinto-me atingido pelos crimes destas pessoas”, afirma o sacerdote.

Numa entrevista que irá para o ar no programa Igreja Açores do dia 23 de setembro, o sacerdote fala aprofundadamente da questão dos abusos sexuais de menores, do Papa Francisco e da sintonia com o seu pontificado e ainda da necessidade do Vaticano prosseguir com uma reforma da linguagem sobre a sexualidade humana.

“É preciso que a Igreja seja capaz de ter uma mensagem clara que passa também pela revisão das suas teorias e da sua mensagem sobre a sexualidade humana” afirma o sacerdote.

“A igreja precisa de ver e rever toda a sua linguagem sobre a sexualidade humana. Depois de Freud a sexualidade humana é outra coisa e a Igreja continua com uma visão, e uma consequente mensagem, que não tem em conta todos os aspectos da sexualidade humana que envolve toda a pessoa desde a dimensão psicológica à social, à emocional passando por questões vitais e não apenas reprodutivas e penso que o Papa tem dado sinais de que o quer fazer”, adianta por outro lado o Pe. Júlio Rocha.

Nesta entrevista o sacerdote aborda ainda a oposição de que o Papa tem sido vítima, protagonizada por uma ala mais conservadora da igreja, e manifesta a sua total solidariedade para com o Sumo Pontífice.

Esta semana,  o Conselho de Cardeais manifestou plena solidariedade ao Papa Francisco perante o que aconteceu nas últimas semanas, consciente de que no atual debate a Santa Sé “vai formular os eventuais e necessários esclarecimentos”, assinala o texto saído do grupo C 9 que reúne o conselho de cardeais mais próximos do Papa.

 

Francisco tem recusado comentar as acusações de quem pede a sua renúncia, na sequência de uma carta divulgada pelo núncio apostólico Carlo Maria Viganò, segundo o qual teria protegido o arcebispo emérito de Washington, o ex-cardeal McCarrick.

Já esta quinta-feira, o Papa recebeu no Vaticano o cardeal Daniel DiNardo, arcebispo de Galveston-Houston e presidente da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos da América, juntamente com o cardeal Sean Patrick O’Malley, presidente da Comissão Pontifícia para a Tutela dos Menores (CPTM).

O pontífice tem repetido a necessidade de “tolerância zero” para os casos de abusos sexuais e o seu encobrimento, tendo criado a CPTM, que reúne especialistas e vítimas, além de pedir às conferências episcopais que promovam uma melhor formação para os sacerdotes e implementem diretivas para evitar que estas situações se repitam.

A 20 de agosto, o Papa reagiu com uma carta às recentes crises provocadas pelos casos de abusos sexuais nos EUA e noutros países, reafirmando a necessidade de “tolerância zero” e responsabilização de quem cometeu ou ocultou tais crimes.

“A dor das vítimas e das suas famílias é também a nossa dor, por isso é preciso reafirmar mais uma vez o nosso compromisso em garantir a proteção de menores e de adultos em situações de vulnerabilidade”, pode ler-se.

Francisco assume os erros cometidos pela Igreja Católica, no passado, e diz que é preciso “pedir perdão e procurar reparar o dano causado”.

“Olhando para o futuro, nunca será pouco tudo o que for feito para gerar uma cultura capaz de evitar que essas situações não só não aconteçam, mas que não encontrem espaços para serem ocultadas e perpetuadas”, acrescenta.

Também esta terça-feira, o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) disse em Fátima que os abusos sexuais de menores são um mal que é preciso “erradicar”, sublinhando a existência de diretrizes do episcopado católico desde 2012.

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