Pelo cónego Pe Helder Alexandre.
O que a juventude tem de melhor é ser capaz de contemplar sem compreender, afirmou Anatole France. Ser jovem é ter o fascínio da subida, aprendendo a admirar a novidade, e vivendo com intensidade o sonho do amanhã. A minha experiência tem-me deliciado com a presença tão alegre e entusiasta de tantos rapazes e raparigas. No entanto, o confronto com a realidade pode ser frustrante, quando, por exemplo, nem um trabalho decente se consegue. É essa a ajuda que precisam. Que os ajudem a discernir e a escolher. Que se lhes abram oportunidades. Que não lhes tirem os sonhos. Que estejamos ali para eles, quando precisam.
Quase como um refrão, ouve-se dizer que a nossa juventude está cada vez mais longe da Igreja. As nossas assembleias estão envelhecidas e cansadas. Inventam-se estratégias variadas para os atrair, mas com pouco resultado. Nem sequer as festas ou os momentos fortes eclesiais conseguem motivá-los. Que se passa? Estará a Igreja a perder vitalidade? Será que os jovens procuram outros caminhos? Que caminhos serão esses? Que se passa com a nossa Igreja?
A questão é fundamental e muito séria. Tão séria, porque disso depende o futuro da Igreja. Por isso, andamos todos a refletir sobre o assunto. O Papa Francisco deu o mote, apercebendo-se dessa preocupação, convocou um Sínodo acerca dos Jovens, da Fé e do discernimento vocacional. Os nossos Conselhos paróquias e diocesanos já fizeram eco do mesmo. As recentes Jornadas do Episcopado refletiram também acerca do assunto e o primeiro Congresso Diocesano da Juventude vai procurar escutar os nossos jovens. No entanto, inscreveram-se pouco mais de 150. É muito fraco, se for visto como ponto de chegada, mas é esperança como ponto de partida.
Não é fácil perceber o fenómeno. Os dados indicam que as Ilhas também perdem vitalidade, sobretudo as mais pequenas. Mas, para além dos dados demográficos, o que eles manifestam é reflexo da sociedade em que vivem: individualista, muito competitiva, tremendamente capitalista, sem tempo para o Homem e muito menos para o Transcendente. Talvez seja mais fácil dirigir-se a uma juventude descrente que indiferente. Não sabemos bem. Cada pessoa é um desafio ao anúncio do Evangelho.
Contudo, estou convencido de algumas verdades. Há que dar-lhes voz, e mesmo protagonismo. Não podemos fechar-nos no estabelecido. Talvez seja mais fácil e cómodo, mas não é o caminho do Espírito. Temos dificuldade em renovar. Necessitam também de autenticidade, sua e nossa. Todos precisamos de referências, mas sobretudo os mais novos. Por fim, há que incentivar a promover comunhão, sejam quais forem as iniciativas. O jovem sente-se à vontade entre os seus amigos. Sozinho, dificilmente vai lá.
Os dados estatísticos indicam também um fenómeno crescente e curioso. A juventude procura o Divino, mas fá-lo à sua maneira. A religiosidade constrói-se como um menu, num sincretismo que mistura um pouco de tudo, quer sejam os novos tipos de meditação de inspiração oriental, quer sejam elementos cristãos, com uma pitada de cientologia. Se há procura, tem de haver resposta. Viver e ensinar as verdades da fé, assim como aprender a rezar e ainda os desafios de voluntariado podem ser verdadeiros caminhos. A linguagem que se usa também é central, incluindo a dos meios informáticos, e sobretudo aquela que se chama testemunho. Não existem receitas. E o nosso enfraquecimento pode estar relacionado com a dificuldade em sermos criativos. É tarefa e desafio de todos.