Por Renato Moura
Começou o Verão. Na ilha das Flores, que para muitos é a mais bonita dos Açores, o sol torna ainda mais deslumbrantes as potencialidades naturais.
A ilha começa a encher de gente vinda do exterior. Cada vez a presença dos visitantes se torna mais notória, pois o número de residentes está continuamente a diminuir. Por incrível que pareça e para estupefacção dos que usam a inteligência, sejam de cá ou vindos para nos compreender e ajudar, há quem detenha altas responsabilidades políticas e não considere isso preocupante (talvez se pense que quantos menos forem, mais fácil é condicionar-lhes o voto!).
Recordemos: antes, na marcante década de 70, esta ilha teve o que a esmagadora maioria não tinha. Exemplifiquemos: um aeroporto; um hospital apetrechado em instalações e equipamentos, com condições para a realização de análises, radiografias, partos, anestesia e cirurgia, dotado de pessoal especializado; uma central hidroeléctrica, que através do aproveitamento da força motriz da água, conseguia produzir energia eléctrica suficiente, que rapidamente chegou à maioria das localidades das Flores; abertura de estrada para Ponta Delgada, a maior das freguesias não sede de concelho; criação de muitos postos de trabalho bem remunerados. Evidentemente que isto resultou da instalação da Estação Francesa de Telemedidas, cujo pessoal bem retribuído por tecnicidade e deslocação, pago em francos, engrandeceu, durante décadas, a economia local.
As câmaras municipais de então, quase sem custos de administração, iam sacando habilidosamente, dos poderes de então, uns dinheiros e investimentos, que, todavia, permitiram deixar obras para a posteridade.
Atentemos: agora as administrações municipais estão cheias de gente, custam caro e consomem imensos recursos financeiros. Realizam algumas obras, porventura com algum interesse social, mas não se notam realizações que intervenham decisivamente no desenvolvimento.
Perguntemos: e depois, o futuro desta terra? Percebendo que o Governo Regional não tem uma estratégia de desenvolvimento para cada ilha, que pudesse suster o despovoamento das ilhas pequenas, para além de que a falta de recursos financeiros já não é disfarçável, o que estão a fazer as administrações municipais e os políticos locais para tomarem em mãos a tarefa de procurar soluções para fixar população, oferecer-lhe condições dignas e criar as condições básicas para o desenvolvimento empresarial?
Setembro acabado, não teremos artificialismos; regressa o Outono e a continuação do êxodo, enquanto nada se fizer.