Por Renato Moura
Abundam, principalmente nas nossas cidades e vilas, edifícios que fazem parte do património do Estado e se encontram em péssimo estado de conservação. Não apenas alguns monumentos, como também construções que albergam serviços públicos, que, para além do aspecto degradante, não oferecem o mínimo de condições aos utentes e obrigam os trabalhadores que ali prestam serviço, não só a um enorme desconforto, como à redução da qualidade e volume da produção.
Infelizmente estes problemas não afectam apenas o património edificado do Estado, mas também o da Região Autónoma dos Açores e ainda o de muitas autarquias locais.
Conhecemos a grande sedução dos gestores da coisa pública na projecção e lançamento de obras novas. O processo envolve diversos momentos essenciais para fazer notícia, que passam, ao menos, pelo anúncio da ideia, aprovação no órgão competente, elaboração do projecto, respectiva apresentação pública, abertura do concurso, escolha da empresa construtora, lançamento da primeira pedra e finalmente pela inauguração. Alguém com muita graça dizia que alguns ainda fazem render mais, com o lançamento da primeira telha, ou com a inauguração por partes! Não resta dúvida que todas estas etapas, cuidadosamente tratadas e publicitadas, são politicamente relevantes e contribuem decisivamente para as reeleições. E o povo, com os seus impostos, paga as obras e a propaganda das máquinas públicas!
Claro que há investimentos importantes, alguns indispensáveis, dos quais resultam benefícios inestimáveis. Mas também há obras que são “inventadas” para alegadamente aproveitar fundos europeus, que são desnecessárias, ou pelo menos de interesse duvidoso; e que implicam também investimento próprio.
Com o passar dos anos merece condenação o facto de esses edifícios não serem alvo de operações de conservação ou pequena reparação, que os manteriam impecáveis e operacionais por muitos anos. Só que isto não é aparatoso e aparentemente não rende votos, nem torna famosos os respectivos dirigentes. O resultado da omissão é a degradação plena, que justifica então uma grande recuperação ou reedificação, que com todos os passos indispensáveis conduz a uma inauguração do inaugurado uns anos antes. E sempre com os mesmos a pagar!
Seja de quem for, ou a culpa de quem quer que for, tudo o que foi mal conservado tem de ser reparado, se necessário agora reconstruído; então depois cuidadosamente conservado para perdurar.
Sendo assim justificar-se-ia que todos os executivos criassem um departamento chamado de Conservação e Reparação.