D. Manuel Linda entrou hoje formalmente na maior diocese do país
O novo bispo do Porto hoje empossado, Manuel Linda, afirmou a intenção de exercer o ministério com “amabilidade e coração grande” e mostrou-se disponível para, “se necessário”, fazer intervenção “política” e “denúncia” pelos desfavorecidos.
“O exercício da caridade implica sujar as mãos na realidade do dia-a-dia. Pode haver situações em que, mais do que isso, tenha de haver também a denúncia. Se for necessário, evidentemente que o farei”, disse Manuel Linda, quando questionado pelos jornalistas sobre a disponibilidade para fazer intervenção “política” em defesa dos mais carenciados.
O ex-bispo das Forças Armadas e de Segurança, que sucede a António Francisco dos Santos na Diocese do Porto, falava numa conferência de imprensa em que respondeu a perguntas sobre os ataques com mísseis à Síria, o celibato dos padres, a ordenação de mulheres e a lei que permite a mudança de género a partir dos 16 anos.
As declarações foram feitas logo após a tomada de posse de Manuel Linda, porque o novo bispo quis que o seu “primeiro ato de relação com a nova Diocese fosse por intermédio dos jornalistas”, porque, “no tempo de hoje, a procura e a descoberta da verdade passa pelo jornalismo criterioso”.
Manuel Linda anunciou a intenção de “exercer o ministério com a simplicidade que caracteriza a Igreja” e que ele procura que o caracterize, balizando a atuação na “amabilidade, na simpatia e no coração grande”.
O novo bispo notou que estas eram, também, características do seu antecessor, António Francisco dos Santos, que morreu vítima de ataque cardíaco, em 11 de setembro de 2017.
Manuel Linda assegurou que a igreja católica não está em crise nem vive “o fim da linha”, estando sim no “princípio de uma nova era”.
“Não estamos aqui como administradores de insolvência para encerrar a causa”, notou.
Questionado sobre o celibato dos padres, o bispo disse que, “nesta fase, ainda se justifica plenamente”.
“Ainda me parece que tem plena razão de ser. Mas esta questão não é dogmática ou de natureza imutável”, observou, alertando ser “coisa diferente” a ordenação de mulheres.
Sobre a eutanásia, Linda disse ser “100% contra”, anunciou que não irá “para a praça pública arregimentar tropas”, mas manifestará a posição da Igreja na “formação de consciências”.
Indicou, ainda, tratar-se de um “tema humano, e não religioso”.
“Apressar a morte é algo que me choca”, disse.
Quanto à lei aprovada na sexta-feira no Parlamento que permite a mudança de género a partir dos 16 anos, o bispo do Porto considera que, “naquela idade, a pessoa não tem maturidade psicológica” para a decisão.
“É um contrassenso permitir uma decisão tão importante a pessoas que não têm o seu temperamento ainda formado”, vincou.
Manuel Linda não identificou o maior desafio à frente da Diocese do Porto, mas apontou um “grande”, o de “ser portuense no meio dos portuenses.
“É o primeiro esforço que vou fazer”, disse.
Manuel Linda foi a 15 de março nomeado pelo papa Francisco para dirigir a diocese do Porto.
Numa mensagem divulgada na altura, Manuel Linda indicou que a Diocese do Porto “sempre se distinguiu pela cultura dos seus membros, zelo missionário, santidade operante e sadia presença na sociedade”.
“Trabalharei no Porto como tenho feito até aqui: ‘com Pedro e sob Pedro’. Mas também ‘à maneira de Pedro’. Isto é, pretendo ser um ‘missionário da misericórdia’, um pastor com ‘o cheiro das ovelhas’, um pai dos Padres, um irmão dos mais pobres e um fomentador do espírito ecuménico e de diálogo”, descreve.
“Procurarei reconduzir a Igreja a uma tal simplicidade evangélica que a constitua referencial ético para o mundo atual”, acrescenta.
O novo bispo do Porto refere-se também a uma Igreja “reformada” e “sensível aos sinais dos tempos”.
A Diocese do Porto saudou, entretanto, o seu novo bispo e o seu “regresso” ao local onde terminou o curso teológico, no Seminário Maior de Nossa Senhora da Conceição.
Fazendo votos por um “fecundo e frutuoso episcopado”, a Diocese diz que “a data da entrada solene, na Catedral do Porto, será comunicada a seu tempo”.
Desde setembro de 2017 que a segunda maior diocese portuguesa em número de paróquias (477, menos 74 do que Braga) tinha como administrador apostólico o bispo auxiliar António Maria Bessa Taipa.
Manuel Linda, de 61 anos, ordenou-se padre em Vila Real e foi bispo auxiliar de Braga, antes de se tornar bispo das Forças Armadas e de Segurança.
(Com Lusa)