Diretora do Serviço Diocesano da pastoral Social apela a uma ação concertada na construção de um projecto de vida individual para os excluídos

Vitória Furtado participou numa ação no dia do Serviço Social sobre os Sem Abrigo

O Serviço Diocesano da Pastoral Social participou esta terça feira na Comemoração do dia do Serviço Social, no seminário “Todas as Vozes: pensar e agir com os sem abrigo”. O tema em debate sentou à mesma mesa representantes do Governo Regional, Câmara Municipal de Ponta Delgada; Câmara do Comércio e Indústria de P. Delgada, da Universidade dos Açores e da área da saúde, informa uma nota enviada ao Igreja Açores.

Na perspetiva da Pastoral Social a situação das pessoas em situação de `sem abrigo´ pode ser analisada à luz dos princípios que guiam a ação social cristã, designadamente o da proximidade, respeitando a identidade da pessoa e cooperar, com ela, na solução dos seus problemas; o da universalidade,  abrangendo todas as pessoas principalmente os mais marginalizados; o da Gradualidade, que implica a conciliação entre a acção pontual e a estrutural e o da Radicalidade, ou seja, um esforço permanente para chegar e atuar nas causas/raízes dos problemas.

Vitória Botelho Furtado defendeu a importância de se analisar as relações “que os indivíduos estabelecem com o seu meio, que estão em constante mutação, através de uma perspetiva ecológica”.

“Para se chegar à raiz dos problemas deve-se analisar não só o ambiente onde o indivídio se insere, mas também compreender quais as suas mais profundas necessidades” referiu.

A este nível a Diretora da Pastoral Social citou a teoria da hierarquia de necessidades, formulada pelo psicólogo Abraham Maslow, na década de 70, que preconiza uma série de cinco necessidades do ser humano, dispostas numa pirâmide onde na sua base estão as necessidades primárias (básicas) que são as fisiológicas e as de segurança e as necessidades secundárias, que estão no topo da pirâmide, que são as sociais, de estima e de auto-realização. Seguindo então esta lógica, se as pessoas em situação de sem abrigo não conseguirem satisfazer as suas necessidades fisiológicas e de segurança, mais dificilmente irão conseguir alcançar uma percepção de integração social no meio onde se inserem.

À luz do “princípio da radicalidade”, os estudos apontam que a “raiz do problema e as razões” para que as pessoas acabem numa situação de sem abrigo residem principalmente em “condições estruturais como a pobreza e a impossibilidade de terem acesso da uma casa ou de a manterem”. Segundo Vitória Botelho Furtado, “sem acesso a uma casa, a um espaço individual próprio, as pessoas sem abrigo apresentam sérias limitações em se envolverem no seu processo de recuperação”.

De resto, estudos sobre abordagens recentes a este nível comprovam que a cedência de uma casa individual, que satisfaça as necessidades fisiológicas e de segurança, que ofereça conforto, privacidade, aumentam exponencialmente as probabilidades de recuperação e integração social das pessoas em situação de sem abrigo. Um exemplo é o Projeto “Casas Primeiro” liderado por José Ornelas,  em Lisboa, que demosntrou que a cedência de uma casa individual que ofereça conforto, privacidade e segurança a pessoas em situação de sem abrigo aumenta exponencialmente as suas probabilidades de recuperação e integração social.

Assim, a ação social a este nível “não pode reduzir-se ao mero assistencialismo”, mas deve satisfazer as caraterísticas específicas do indivíduo; dar resposta às necessidades imediatas; ser feita com competência e sob coordenação técnica próxima,  e ser sobretudo assente na relação humana. A construção de autonomia é um processo que estimula a identidade própria, a capacidade criativa e a autoconfiança. E por autonomia entende-se  a capacidade de acesso à garantia de direitos básicos e consciência dos respetivos deveres.

“É assim desejavel que a assistência implique a construção de autonomia”, concluiu a responsável pelo Serviço Diocesano da Pastoral Social.

 

Scroll to Top