As “Mijinhas do Menino” e os presépios marcam o espirito da quadra natalícia nos Açores 

A tradição está viva no mundo rural, mas nas cidades a pergunta que mais se ouve nesta quadra, em todo o arquipélago, é se “o Menino mija”

A tradição do Natal açoriano “O Menino mija”, que junta grupos em peregrinação por casas de amigos e familiares, tem perdurado no tempo, constituindo um símbolo do património etnográfico do arquipélago.

Entre os dias 24 de Dezembro e o de Reis (6 de Janeiro), vários grupos de homens e mulheres andam de casa em casa, cantando e visitando familiares e amigos, degustando doces e licores tradicionais caseiros, de amora, tangerina, leite ou café, que estão sempre expostos por esta altura nas mesas.

Antes de entrarem, e chegados a estas casas, os grupos perguntam: “O Menino mija?”.

“Para mim é a quadra mais bonita do ano. Fui criado neste ambiente e por isso é-me familiar esta tradição” referiu ao Igreja Açores Hernâni Rocha, um dos 12 elementos do Grupo de Reises, da Fonte Bastardo, na ilha Terceira, que desde 2006, depois de um desafio lançado pelo Presidente da Câmara Municipal da Praia, Roberto Monteiro, todos os anos, a 6 de janeiro, desfila pelas principais ruas da cidade terceirense cantando e bebendo nas casas dos amigos. A música é alusiva à quadra natalícia mas também vive de uma boa dose de improviso, inspirado nas cantigas ao desafio e nas velhas, adequando-se a cada anfitrião.

Além dos licores e dos figos passados, nas mesas das casas onde entram, também se veem por vezes laranjas, as mesmas que enfeitam os “Altarinhos do Menino Jesus”, que muitas vezes surgem em alternativa ao presépio.

O “Altarinho”  dispõe-se sobre a cómoda do quarto principal da casa, ou numa mesa encostada à parede. Entre o dia de Santa Bárbara e o da Imaculada Conceição, ou então no dia de Santa Luzia, colocam-se a grelar tigelas e pratinhos com ervilhaca, trigo, milho e tremoço para, juntamente com laranjas e tangerinas, enfeitar o presépio ou o altar do Menino Jesus. Além dos “Altarinhos”, também se destaca na tradição açoriana, sobretudo em São Miguel, armar a “Lapinha”, um presépio em miniatura disposto sobre rochas e ornamentado com materiais da terra, desde musgo às conchas do mar, passando pelas figurinhas em miniatura feitas em barro e pintadas à mão, reproduzindo os quadros da vida de Jesus. Mas, o que anuncia a aproximação do Natal são mesmo as novenas do Menino Jesus, que se celebram um pouco por todo o arquipélago. É com elas que começa a preparação espiritual do Natal, festa que tem sempre uma mesa recheada. Nos meios rurais, ainda hoje, se costuma matar o porco, tradição fortemente enraizada que constituía e constitui uma fartura para a casa. As melhores galinhas e os capões (ainda hoje o prato típico do Nordeste) ainda hoje são guardados para a consoada e para o dia de festa.

O Natal é, sem dúvida, tempo de tradições nos Açores, ilhas de grande religiosidade. Por isso, na noite de Natal os sinos chamam os fiéis para a missa do galo. Em São Carlos, na Terceira, há meia dúzia de anos que se celebra a Missa do Galito, destinada essencialmente às crianças da catequese. E, no Faial, celebra-se a Missa da Aurora, antes do sol nascer no dia 25.

(Este texto foi publicado no Semanário Digital da Ecclesia

 

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