Uns semeiam e outros alastram tempestades

Por Renato Moura

Tornou-se moda que alguns grandes clubes nacionais emitam, directamente, ou através de dirigentes ou outros responsáveis, utilizando órgãos de comunicação social ou redes sociais, um volume enorme de afirmações, suspeitas e acusações, que incendeiam a opinião pública. A personalização e agressividade das mensagens impressionam não apenas os que dão importância ao clubismo.

Se há elementos capazes de provar ilegalidades, seja de quem for, deveriam ser entregues à justiça, para poderem punir-se os prevaricadores. Intoxicar, periódica e sucessivamente, a opinião pública, com afirmações do teor de algumas que têm vindo a lume, acirra ânimos, exacerba paixões e gera ódios. No caso dos acusados, sobretudo se instituições, deixar correr, no caso de serem falsas, essas notícias, sem adequada tomada de posição, é deixar que cresçam as suspeitas.

Creio que muita gente já não toma a sério tudo quanto aparece nas redes sociais. Mas quando as principais estações de televisão bebem o que nelas se publica para tema de fundo dos seus principais programas de comentário desportivo, ampliam-se as tempestades, dá-se crédito ao que pode não o merecer, colabora-se na destruição de instituições e difamação de pessoas, amplia-se o número dos que já odeiam isto a que se chama desporto e presta-se um mau serviço à educação dos cidadãos.

Os programas desportivos incluem, para além dos aludidos enredos, as polémicas sobre as arbitragens, os VAR que antes se queriam e agora se vão tentando destruir, as opiniões descaradamente distorcidas pelo facciosismo de alguns dos ligados aos clubes e até de uns supostamente isentos, que num jogo parecem ter visto o que ninguém viu. Frequentemente falam todos ao mesmo tempo, ninguém respeitando sequer o moderador, abundam ataques ao carácter dos participantes; creio que se alguém sério, com poder de decidir, visse o programa, antes de o emitir, teria vergonha de o mandar para o ar. Só que nos tempos seguintes é igual ou pior. Com absoluta primazia só aos três maiores clubes, pouco ou nenhum tempo sobra para comentar a qualidade do jogo ou dos seus intervenientes. É uma lástima a ampliar e a generalizar-se.

O aviltamento sobe à ribalta e a intriga amarfanha a nobreza do desporto.

Não vale tudo na conquista de audiências (e a RTP deveria ser exemplar), ou na busca da vitória desportiva.

Pode-se ser opositor sem ser inimigo, ser vencedor sem ser arrogante. É que, como ensinou o escritor Francisco Quevedo, “A soberba nunca desce de onde sobe, mas cai sempre de onde subiu”.

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