O Reitor do seminário de Angra, Pe Hélder Miranda Alexandre sublinha mudanças impulsionadas pelo Papa Francisco, mas sempre de olhos postos no trabalho desenvolvido pela Igreja ao longo do tempo.
Desde a sua eleição há um ano, o Papa Francisco suscita surpresa e fomenta enormes expectativas acerca de profundas mudanças na Igreja. A sua imagem tende a mostrar uma Igreja desprendida, comprometida com o anúncio do Evangelho. Não se pode negar uma mudança de estilo. Passou-se dos discursos e textos, ainda que muito bem elaborados, a gestos simples e eloquentes. Também tive o privilégio de privar com ele por alguns minutos, e senti de perto o seu carisma.
No entanto, não devemos ser ingratos com o passado. A Igreja que chega até nós presenteia-nos com um legado de caridade e verdade jamais contabilizáveis. A surpresa de muitos não passa de simples desconhecimento!
Um recente artigo apresenta-o como “Papa implacável”, sem medo de mudanças. Contudo, como ele próprio defende, não se pode esquecer o contributo dos seus predecessores. As reformas mais importantes em curso já vêm de trás. Basta pensar na questão da pedofilia do clero. Nisto ninguém foi mais “implacável” que o Papa Bento XVI, em detrimento da sua própria imagem.
Convém notar que a doutrina e a disciplina na Igreja não mudaram. Pense-se, por exemplo, na normativa que não admite à comunhão os divorciados recasados. Tal não significa que esta como outras questões estejam esquecidas. Por isso, o próximo Sínodo será dedicado aos problemas e desafios da família, depois de ter passado por uma alargada consulta da Igreja. Nada de novo no modo de proceder.
Não quero, de modo algum, defender o fixismo, e a Igreja tem sempre necessidade de se reformar, mas os factos exigem prudência, para que não se criem expectativas que possam desiludir os entusiastas do presente. Com o seu novo estilo, o Papa oferece-nos um novo fulgor do Espírito Santo, mas não é só ele que muda a Igreja”.