A ideia foi deixada pelo Pe Pedro Regojo numa conferência em Ponta Delgada intitulada “Matrimónio Cristão- uma realidade do passado” promovida pela Arcádia.
Uma das principais causas que justificam a diminuição dos casamentos cristãos prende-se com a dificuldade que as pessoas têm em assumir compromissos duradoiros, disse esta noite em Ponta Delgada o Pe Pedro Regojo, sacerdote incardinado na prelatura da Opus Dei que esteve nos Açores a convite da associação juvenil Arcádia, para falar sobre o matrimónio.
“Hoje as pessoas têm medo de fazer escolhas definitivas” que “impliquem compromissos para a vida” diase o sacerdote que durante cerca de duas horas procurou explicar o significado do matrimónio, como “projeto de Deus”; a identidade do matrimónio definindo os fins, as propriedades, o compromisso e o amor; as razões que levam à desvalorização do matrimónio e o significado do matrimónio enquanto sacramento.
A intervenção de Pedro Regojo teve como ponto de partida as reflexões do Papa Francisco sobre matrimónio e família, na Exortação Apostólica A Alegria do Evangelho (66), sublinhando que o casamento é “um estado de vida entre um homem e uma mulher”, em que ambos, de forma “livre, consciente e discernida” decidem dar o seu “consentimento para se unirem numa só carne” e que tem por finalidade “a felicidade dos esposos e o crescimento/educação dos filhos”.
Para o sacerdote da Opus Dei ao fazerem esse “consentimento”, os cônjuges “estão a dar-se incondicionalmente um ao outro e só essa entrega total determina o verdadeiro casamento”.
Pedro Regojo começou a sua intervenção definindo o que é o matrimónio, “um projeto de Deus esculpido na própria natureza” que diferencia o homem da mulher.
Numa segunda abordagem, identificou as finalidades naturais do casamento, recorrendo a várias citações da Encíclica Gaudium et Spes , para sublinhar que “este consórcio para toda a vida tem como finalidade a felicidade dos esposos e o crescimento saudável dos filhos”.
Depois falou da unidade e do carácter indissolúvel do matrimónio que “nos introduz num outro estado de vida, como se estivéssemos a entrar numa viagem da qual não se pode desistir sem custos”.
Além da “unidade e da indissolubilidade”, o sacerdote falou, ainda, do “carácter único, irrepetível e exclusivo do matrimónio”, que tem como motor principal o Amor, numa primeira fase “gratuito e empático”; numa segunda fase mais “inteligente mas também mais exigente”.
O sacerdote, que dedicou grande parte da sua vida à gestão e orientação de empresas, deixou um alerta para todos os cristãos: “com medo não se avança”.
“As pessoas têm que superar receios, queimar as naves como diziam os descobridores de cada vez que chegavam a terra firme, sob pena desses receios/medos se transformarem num verdadeiro obstáculo à relação”, conclui o sacerdote, que vê na instabilidade profissional, na desvalorização da dimensão jurídica ou no formalismo social pretextos “para assumir um compromisso” e, isso “é fruto da sociedade atual”.
Já durante o período de debate, foram colocadas algumas questões centradas na problemática da comunhão dos cristãos divorciados e recasados.
Pedro Regojo destacou, a este propósito, as palavras do Papa Francisco para lembrar que a Igreja “não exclui”, “não discrimina” nem “condena”, antes “caminha” lado a lado com as pessoas, que em cada momento sofrem. “E é isso que deve ser feito”, remata o sacerdote.
Depois lembrou o Consistório de cardeais, na passada semana, onde também se debateu o tema da família tendo surgido algumas propostas – embora não uma posição comum – sobre a possibilidade «de perdoar» os divorciados, para que possam voltar a receber sacramentos.
Esta terça feira, o Sacerdote desloca-se à Terceira para proferir uma conferência sobre o mesmo tema.
Pedro Regojo tem um MBA e é doutor em Direção de Empresas pelo IESE (Barcelona), tendo ensinado 17 anos na Escola de Direção e Negócios temas relacionados com o controlo de gestão, o governo de sociedades e as empresas familiares.
Foi consultor e administrador não executivo de alguns grupos empresariais, tendo terminado o doutoramento em teologia em 2008, na Universidade de Navara, altura em que recebeu a ordenação sacerdotal.