O bispo de Angra presidiu à Solenidade de Santa Maria Madalena, na ilha do Pico
O bispo de Angra afirmou esta tarde , durante a homilia da Missa da Solenidade de Santa Maria Madalena, na ilha do Pico, que a sociedade moderna fomenta a “passividade e a indiferença” e por isso o homem foge de Deus.
“Porque é que hoje há tanta fuga a Deus por parte das pessoas? Porque hoje, cada um fica na sua condição sem se deixar libertar”. A sociedade conduz-nos à passividade e à indiferença”, afirmou D. João Lavrador.
“As pessoas deixaram de se inquietar e de perguntar, negligenciando um caminho que as faça encontrar consigo próprias, com Jesus e consequentemente com Deus e com os outros”, afirmou o prelado lembrando que hoje “não se fazem perguntas porque elas incomodam” antes se “impõem preconceitos”.
“Não nos podemos fechar em nós próprios e temos de ter a consciência de que a nossa realização não se consegue só pelas questões materiais” acrescentou lembrando que “o ser humano tem que procurar muito mais porque esta cultura não está a responder ao que de mais intimo o ser humano precisa”.
“Precisamos romper com os preconceitos, nós temos necessidade de fazer um encontro com Jesus Cristo”, precisou D. João Lavrador destacando que foi isto que Maria Madalena fez e que fez dela a primeira testemunha e a “apóstola entre os apóstolos”.
“O que faz movimentar Maria Madalena é o amor e o amor faz muitas perguntas” afirmou o bispo de Angra.
“E quando nos aventuramos a fazer este caminho, procurando ir ao encontro do outro, vamos obtendo muitas respostas porque o amor responde à inteligência sem se limitar a ela; responde ao afecto sem se limitar a ele e responde à vontade humana não se limitando à realidade da vontade”, frisou o responsável pela igreja açoriana que voltou ao Pico para presidir à primeira grande festa de verão da ilha montanha.
“O amor abarca a realidade da pessoa no seu todo. Quando falamos de entrega é isto que se pede”, disse.
“Maria Madalena é a grande peregrina do amor: ou nós nos descobrimos como Maria Madalena, entregando-nos por amor ou a nossa vida não terá sentido”, concluiu.
A Missa da Solenidade de Santa Maria Madalena foi concelebrada por vários sacerdotes, entre eles, o Vigário Episcopal do sector ocidental, Pe João Bettencourt das Neves; Monsenhor António Saldanha; o Pároco Pe. Marco Martinho; os padres António Silveira, Raimundo Bulcão e Bruno peixoto e ainda três dos mais jovens sacerdotes da diocese, os padres Gaspar Pimentel, Pedro Lima e Jacob Vasconcelos, que assinalaram assim a padroeira deste concelho da ilha do Pico mas também esta solenidade que passou a ser considerada como tal no ano passado, por decreto da Congregação para o Culto Divino.
O texto sublinha que Maria Madalena foi a primeira “testemunha” e “anunciadora” da ressurreição de Cristo.
A mudança promovida pelo Papa aconteceu “no contexto do Jubileu da Misericórdia” para sublinhar “a relevância” da figura de Maria Madalena, “que mostrou um grande amor a Cristo e foi por Cristo tão amada”.
O prefácio para a Eucaristia, já traduzido para português, reforça esta ideia: “Aparecendo Jesus a Maria Madalena no jardim, Ela que tanto o amara quando era vivo, viu-O morrer na cruz, procurou-O no sepulcro; e foi a primeira a adorá-lO depois de ressuscitar dos mortos”.
A data litúrgica de Maria Madalena era até 2016 uma “memória obrigatória”, celebrações em honra de Nossa Senhora ou dos Santos que estão numa categoria inferior às “festas” e às “solenidades” no calendário litúrgico reformado pelo Concílio Vaticano II.
O Papa Francisco apresentou também em 2013 uma reflexão sobre esta santa, partindo do relato do Evangelho segundo São João que retrata Madalena a chorar junto do sepulcro vazio, num momento de “escuridão na sua alma” por ver deitadas por terra “todas as suas esperanças”, antes da aparição de Jesus ressuscitado.
Maria de Magdala, declarou, era a “mulher pecadora” que ungiu os pés de Jesus e os enxugou com os seus cabelos, uma “mulher explorada e também desprezada por aqueles que se julgavam justos”.
Também Bento XVI expôs numa intervenção pública as lições deixadas aos cristãos de todos os tempos por Maria Madalena, “discípula” de Jesus, “testemunha do poder do seu amor misericordioso, que é mais forte que o pecado e a morte”.
O Papa emérito recordou esta mulher, “que nos Evangelhos desempenha um lugar de primeira ordem”, falando em Les Combes, localidade dos Alpes italianos.
A figura da Madalena foi motivo de debate ao longo dos séculos, em particular por causa de passagens de escritos gnósticos que aludem a uma proximidade entre Jesus e Maria Madalena e alguma hostilidade em relação a ela por parte de São Pedro e Santo André.
O Evangelho de S. Lucas, recordou Bento XVI, apresenta-a entre as mulheres que seguiram Jesus depois de ter “sido curada de espíritos malignos e doenças”, precisando que dela “tinham saído sete demónios”.
“A história de Maria de Magdala recorda a todos uma verdade fundamental: discípulo de Cristo é quem, na experiência da fraqueza humana, teve a humildade de pedir-lhe ajuda, foi curado por ele, e seguiu-o de perto, tornando-se testemunha do poder do seu amor misericordioso”, disse então.
Depois da Eucaristia seguiu-se a procissão pelas principais artérias da vila. No final, o Pe. Jacob Vasconcelos, que pregou o novenário preparatório da festa, voltou a lembrar o papel de Maria Madalena- “A apóstola dos Apóstolos”- que nos recorda “que a santidade não é uma utopia ou um ideal inatingível mas uma meta possível para todos nós e uma promessa de felicidade eterna”.
“Ela é, para todos nós, o modelo do verdadeiro discípulo-missionário. Soube estar primeiramente com o Senhor, escutando a Sua voz e, movida pelo amor, levou aos discípulos a maior notícia de todos os tempos e a razão de ser da nossa existência cristã: A ressurreição do Senhor”, disse.
O sacerdote, que fez a sua primeira pregação como presbítero da diocese de Angra, nestes últimos nove dias, deixou um desafio a todos os cristãos que estão em festa: “quando é grande a nossa alegria, necessitámos que extravase para fora de nós mesmos e chegue a todos”.
“Não tenhamos medo de continuar esta procissão no dia-a-dia da nossa vida” sendo um exemplo para os demais, “a imagem vive de Jesus”.
“Oxalá todos possam olhar para nós e encontrar, nas nossas formas de ser e de estar, traços do rosto do próprio Jesus. Quanto mais nos assemelharmos a Ele, mais luz estaremos a lançar sobre a nossa sociedade, que tantas vezes permanece chorosa, junto dos sepulcros dos novos, e que precisa de ouvir a voz do Senhor, que nos chama pessoalmente pelo nosso nome e que nos envia em missão, como testemunhas da sua ressurreição”, terminou.
Em jeito de balanço do que foram as pregações no novenário, o Pe. Jacob Vasconcelos invocou a proteção de Santa Maria Madalena para que ajude a formar “comunidades de verdadeiros discípulos missionários”; para que ajude a “eliminar da sociedade todos os gestos do mal e da morte e que ajude a fazer “missionários”.
A festa de Santa Maria Madalena termina este domingo e para além dos momentos religiosos teve também um vasto programa cultural. Esta noite as bandas convidadas farão um concerto no palco do largo Cardeal Costa Nunes. E depois da meia noite subirão ao palco os Resistência e amanhã, último dia da festa, será a vez do espectáculo de Mariza.