Por Carmo Rodeia
Várias vezes ao longo da vida dos meus filhos lhes disse “a mãe está aqui”. Ou porque estavam doentes, ou porque ficaram frustrados perante uma situação concreta ou simplesmente porque estavam felizes e queria comungar da felicidade deles. Tal como a minha ainda hoje me diz, tantas vezes, e de forma que nem sempre compreendo.
O amor de uma mãe pelos filhos não se mede. Não é que o amor seja em alguma circunstância quantificável… quando se ama ama-se e pronto. Não é muito nem é pouco é Amor e nem se devem fazer grande perguntas sobre porque é que se ama, seguindo a máxima de que o amor tem como único argumento o amor. Mas a dimensão do amor maternal é qualquer coisa para além disto.
É comum ouvirmos a afirmação (repetida abundantemente, sobretudo, pelas mães): uma mãe perdoa tudo a um filho. Mais do que perdoar uma mãe (con)sente tudo a um filho: sofre por ele e sofre com ele. Duas vezes, pelo menos. Sofre quando ele sofre mas sofre também quando não é capaz do impedir o sofrimento do filho e aqui o singular é apenas uma fórmula porque é sempre assim com um , com outro e com outro filho, tantos quanto os que cada mãe tiver.
Em Fátima, o Papa lembrou-nos a importância deste estar aqui da Mãe de Jesus e nossa também.
“No crer e sentir de muitos peregrinos, se não mesmo de todos, Fátima é sobretudo este manto de Luz que nos cobre, aqui como em qualquer outro lugar da Terra quando nos refugiamos sob a proteção da Virgem Mãe”, realçou, na homilia da Missa a que presidiu no Santuário, perante centenas de milhares de pessoas.
O Papa agradeceu “as bênçãos sem conta que o Céu concedeu nestes cem anos” e retomou um tema que tem marcado as suas intervenções, apresentando a Virgem Maria como “Mãe”.
“Uma «Senhora tão bonita»: comentavam entre si os videntes de Fátima a caminho de casa, naquele abençoado dia 13 de maio de há cem anos atrás”, declarou.
“Queridos peregrinos, temos Mãe. Temos Mãe! Agarrados a Ela como filhos, vivamos da esperança que assenta em Jesus”, apelou.
Qualquer mãe pode imaginar o sofrimento que Maria sentiu ao ver e ouvir o que diziam do filho, o que lhe fizeram e como lhe fizeram. Ainda assim aguentou, como qualquer mãe aguenta, apesar do enorme sofrimento. Porque o objetivo é permanecer sempre ao lado do filho, enxugando-lhe as lágrimas, aconchegando-lho o coração, mimando-o até à alma com o mesmo sorriso, numa atitude de confiança e segurança que só uma Mãe pode dar.
Em Fátima sentimos esta proteção de confiança. Seja na escassez ou na abundância; na riqueza e na pobreza. E, a partir daqui, olhamos o dia de amanhã, o futuro com uma enorme confiança.
Tal como numa amizade também esta confiança não pode nascer do nada. Tem, primeiro, de crescer em silêncio nos corações, de construir lenta e misteriosamente em múltiplos encontros, de se consolidar num tráfico íntimo de sinais ao ponto de sermos capazes de afirmar: “Já éramos amigos e não sabíamos.”
A amizade com Deus é a mesma coisa. Fátima convida-nos a esta amizade confiante.
Com Francisco, repetimos: “Sob a proteção de Maria, sejamos, no mundo, sentinelas da madrugada que sabem contemplar o verdadeiro rosto de Jesus Salvador, aquele que brilha na Páscoa, e descobrir novamente o rosto jovem e belo da Igreja, que brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor”.