Há quatro anos foi assim: «Verdadeiro» poder é «serviço» aos outros

Papa Francisco preside à missa da inauguração do pontificado e deixa apelos aos responsáveis em favor dos mais fracos

O Papa Francisco disse hoje no Vaticano que o “verdadeiro poder” deve ser “serviço”, com especial atenção aos pobres e fracos, apelando ao compromisso neste sentido de quem tem cargos políticos ou económicos. “Não esqueçamos nunca que o verdadeiro poder é o serviço, e que o próprio Papa, para exercer o poder, deve entrar cada vez mais naquele serviço que tem o seu cume luminoso na Cruz”, afirmou, na homilia da missa que marca o início solene do seu pontificado, na Praça de São Pedro, perante dezenas de milhares de pessoas.A intervenção papal deixou um apelo direto aos que “ocupam cargos de responsabilidade” no campo económico, político ou social, e a todos “os homens e mulheres de boa vontade”.“Queria pedir, por favor (…): sejamos «guardiões» da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do outro, do ambiente; não deixemos que sinais de destruição e morte acompanhem o caminho deste nosso mundo”, referiu Francisco, que falou de pé.

O Papa convidou os católicos a “cuidar carinhosamente” de todas as pessoas, “especialmente das crianças, dos idosos, daqueles que são mais frágeis e que muitas vezes estão na periferia”.

Ele próprio, precisou, deve “abrir os braços para guardar todo o Povo de Deus e acolher, com afeto e ternura, a humanidade inteira, especialmente os mais pobres, os mais fracos, os mais pequeninos”.

Francisco chegou ao local por volta das 08h50 (menos uma em Lisboa), a bordo de um automóvel descoberto, para cumprimentar os fiéis que o esperavam desde as primeiras horas da manhã.

O Papa acenou à multidão, sorridente, beijou algumas das crianças e, ao sair do papamóvel, cumprimentou um doente paralítico, sob os aplausos dos presentes.

A homilia evocou a solenidade de São José, que a Igreja Católica assinala anualmente neste dia 19, elogiando a “discrição” com que o esposo de Maria viveu a sua vida, “com humildade, no silêncio, mas com uma presença constante e uma fidelidade total, mesmo quando não consegue entender”.

O primeiro Papa do continente americano, de 76 anos, declarou que o exemplo de José deve inspirar os católicos a ser sensíveis às “pessoas que lhe estão confiadas” e a “saber ler com realismo os acontecimentos”.

O sucessor de Bento XVI falou também da necessidade de proteger “a beleza da criação”, a exemplo de Francisco de Assis (c.1181-1226), que o inspirou na escolha do nome para o pontificado.

“Guardar quer dizer vigiar sobre os nossos sentimentos, o nosso coração, porque é dele que saem as boas intenções e as más: aquelas que edificam e as que destroem. Não devemos ter medo de bondade, ou mesmo de ternura”, acrescentou.

A ternura, disse o Papa, “não é a virtude dos fracos, antes pelo contrário”, e permite abrir um “horizonte de esperança” perante os “tantos pedaços de céu cinzento do mundo de hoje.

“Peço a intercessão da Virgem Maria, de São José, de São Pedro e São Paulo, de São Francisco, para que o Espírito Santo acompanhe o meu ministério, e, a todos vós, digo: rezai por mim”, concluiu.

O Papa argentino, primeiro do continente americano, agradeceu a presença de representantes de outras Igrejas cristãs, representantes da comunidade judaica e de outras comunidades religiosas, bem como aos chefes de Estado e de Governo, num total de 132 delegações oficiais.

A celebração começou com a entrega do anel do pescador, em prata dourada, e do pálio petrino, insígnias oficiais do Papa.

(Despacho feito por Octávio Carmo, jornalista da Agência Ecclesia, enviado especial a Roma)

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