Por Carmo Rodeia
São Paulo é um mestre da esperança. E apresenta-a como um dos elementos-chave da existência cristã. Desde a primeira das suas cartas que, a par da fé e da caridade a esperança, surge como elemento identitário e diferenciador do crente. Seja na morte seja na vida, mesmo quando o mundo está tantas vezes (hoje mais do que nunca!) tão longe da justiça, da paz, da solidariedade e da compaixão.
O Papa Francisco tem falado várias vezes da esperança. Uma das últimas vezes que o fez foi numa catequese sobre o Natal em que dizia o seguinte: “Se Deus é bom e se nunca muda de atitude e nunca nos abandona, então, quaisquer que sejam as dificuldades, para os crentes esta não é uma situação definitiva. É na sua fé em Deus que os crentes baseiam a espera de um mundo de acordo com a vontade de Deus ou, dito de outra forma, de acordo com o seu amor”.
O Papa Francisco volta a falar da esperança a propósito do 51ª Dia Mundial das Comunicações Sociais, apresentando-a como a “mais humilde das virtudes”, e escreve que o “Reino de Deu” se apresenta como “uma semente escondida a um olhar superficial, cujo crescimento acontece no silêncio”.
O Santo Padre exorta-nos a passar de uma lógica de “notícias más” para a da “boa notícia”, rejeitando o sensacionalismo e a exploração dos dramas humanos.
“Creio que há necessidade de romper o círculo vicioso da angústia e travar a espiral do medo, resultante do hábito de fixar a atenção nas ‘notícias más’ de guerras, terrorismo, escândalos e todo o tipo de falhanço nas vicissitudes humanas”.
O texto, divulgado pela sala de imprensa da Santa Sé, tem como tema ‘Comunicar esperança e confiança, no nosso tempo’. Francisco pede que todos se empenhem na promoção de uma “comunicação construtiva” que rejeite os preconceitos e promova uma “cultura do encontro”.
O Papa propõe um “estilo comunicador aberto e criativo”, que não se prontifique a dar “papel de protagonista ao mal”, mas procure evidenciar as “possíveis soluções”, inspirando uma abordagem “responsável”.
O jornalismo a sério requer atenção, conhecimento e cultura. São ingredientes que fazem um profissional competente. Hoje mais do que nunca porque do outro lado já bastam as redes sociais, com todo o ruído que fazem.
O jornalismo está longe de ser a arte de compilar e amplificar aquilo que se ouve, lê ou vê, sem qualquer escrutínio, avaliação ou critério. Se assim fosse então não precisaríamos de jornalistas.
Vivemos hoje com um ruído permanente, bombardeados com informações que não têm de ser necessariamente noticias ou porque não têm relevância ou porque carecem de confirmação por fontes autorizadas. Poder-se-ia dizer, sem exagerar, que há áreas hipervalorizadas, como o futebol ou a economia, e áreas silenciadas como o trabalho, a diversidade cultural ou a religião.
Tivemos há pouco mais de uma semana em Portugal o IV Congresso dos jornalistas, sob o título genérico “Afirmar o Jornalismo”, num mundo em crise.
O desafio proposto pelo Papa é para todos. Crentes e não crentes. Não sei se já todos lemos esta mensagem mas se não o fizemos, seria útil fazê-lo. Certamente daria um bom prolongamento do debate em torno do jornalismo, com uma esperança renovada.