Encontro natalício do Papa com responsáveis da Santa Sé defendeu mudança que seja mais do que «lifting»
O Papa Francisco apresentou hoje no Vaticano 12 “critérios-guia” para a reforma que quer levar a cabo na Cúria Romana, pedindo mais espaço para leigos e mulheres, sem “resistências malévolas” ao processo.
“É necessário repetir com força que a reforma não é um fim em si própria, mas é um processo de crescimento e, sobretudo, de conversão”, declarou, no encontro anual com os responsáveis dos organismos centrais de governo da Santa Sé e do Estado do Vaticano, para a troca de votos natalícios.
Francisco sustentou que esta mudança não tem um “fim estético” nem quer ser uma “espécie de lifting”.
“Não são as rugas da Igreja que devemos temer, mas as manchas”, advertiu.
Os 12 “critérios-guia” para a reforma da Cúria Romana apresentados pelo Papa foram: individualidade; pastoralidade; missionariedade (Cristocentrismo); racionalidade; funcionalidade; modernidade; sobriedade; subsidiariedade; sinodalidade; catolicidade; profissionalismo; gradualidade.
A intervenção sublinhou a necessidade de incluir nos serviços da Cúria Romana “pessoal proveniente de todo o mundo”, entre eles “fiéis leigos e leigas”.
“É de grande importância a valorização do papel da mulher e dos leigos na vida da Igreja e a sua integração nos cargos de liderança dos dicastérios, com particular atenção à multiculturalidade”, assinalou Francisco.
O Papa lamentou a existência de “resistências escondidas” e mesmo de “resistências malévolas”, que considerou inspiradas pelo “demónio”, com palavras “acusadores, refugiando-se nas tradições, nas aparências, na formalidade”.
O discurso apelou ao fim de uma lógica “do poder” ou “farisaica”, sublinhando que uma reformar é “acima de tudo sinal da vivacidade da Igreja a caminho, em peregrinação”.
“Sem uma mudança de mentalidade, o esforço funcional seria vão”, alertou.
Francisco afirmou que há “resistências boas” que devem ser ouvidas e admitiu que, nalguns momentos, possa ser necessário dar “passos atrás” neste “delicado processo”, que exige “coragem” e “discernimento”.
Na explicação dos “critérios-guia”, o Papa falou da importância de uma “espiritualidade de serviço e comunhão”, que funciona como antídoto para os “venenos da vã ambição e da rivalidade ilusória”.
Francisco defendeu a política de “redução” do número de Congregações e Conselhos Pontifícios da Cúria Romana e sublinhou que assim será possível ter “encontros mais frequentes e sistemáticos” com os seus responsáveis.
A intervenção apelou depois ao “arquivamento definitivo” da prática do ‘promoveatur ut amoveatur’ (promover para remover) nos serviços da Santa Sé.
“Isto é um cancro”, denunciou.
O Papa falou depois das várias medidas implementadas na reforma da Cúria, até hoje, em particular relativamente ao Instituto para as Obras de Religião (conhecido como Banco do Vaticano), à administração financeira da Santa Sé, à Comunicação, à proteção dos menores e a criação de dois novos dicastérios (Leigos, Família e Vida; Desenvolvimento Humano Integral), que congregam vários organismos anteriormente existente.
Francisco despediu-se com votos de “santo Natal e feliz ano novo”, sublinhando que “o coração e o centro da reforma é Cristo”.
Como oferta natalícia, o Papa ofereceu a cada um dos presentes o livro ‘Medidas para tratar doenças da alma’, do jesuíta Claudio Acquaviva (1543-1615), que foi superior geral da Companhia de Jesus.
(Com Ecclesia)