Por Carmo Rodeia
Às vezes ficamos com a sensação de que a verdade não vende e, por isso, não rende. E quando uma mentira é passada nos media parece que ganha o estatuto de verdade: a única verdade, sem hipótese de contraditório.
Fidel Castro morreu, como todos nós um dia morreremos. É a lei da vida e apesar da propaganda oficial mostrar o heroísmo do guerrilheiro, os heróis também morrem. Não vou discutir aqui neste espaço a bondade ou o pesadelo deste regime castrista ao longo de meio século para os cubanos. Eles saberão avaliá-lo melhor do que eu, mas também, por essa razão, não irei “rezar” em público e em voz alta, como alguns fizeram, tecendo “louvaminhas” a um homem que foi um ditador, tal como Adolf Hitler ou Augusto Pinochet. Sim, porque uns não são nem mais nem menos do que outros, sobretudo se fizermos uma leitura para além dos números. Basta ver as atrocidades denunciadas pelos Repórteres Sem Fronteiras no Livro Negro de Cuba, publicado pela Aletheia em 2005, para perceber os factos concretos de uma narrativa triste e antidemocrática praticada pela ideologia comunista, em nome de um ideal revolucionário. Bem sabemos que a teoria e a prática nem sempre coincidem, mas uma não desculpa a outra por mais princípios altruístas que a primeira encerre. Por isso, algum altruísmo da teoria marxista-leninista não pode desculpabilizar as atrocidades praticadas por um regime que pode ter tido um enorme encantamento retórico mas que não passou (e não passa!) de uma ditadura, com tudo o que isso acarreta da liberdade de expressão à possibilidade de ter uma vida com dignidade, que passa também pelo acesso generalizado aos mais elementares meios de subsistência.
Ao contrário de alguns continuo a não acreditar que o Tide (Marca de sabão de máquina que me habituei a ouvir nos reclames!) lava mais branco e melhor uma ditadura comunista a uma nacional socialista, de extrema direita.
Deve ser um problema de incompatibilidade com os “ismos”. Talvez por isso esteja particularmente preocupada com o populismo que varre a Europa e o mundo ocidental, com sinais bem visíveis de decadência.
Trump foi eleito nos Estados Unidos, com a promessa de devolver à América a sua grandeza de outros tempos; na Áustria o susto passou mas não o medo, pois os 46% que o candidato da extrema direita obteve pode constituir um verdadeiro perigo nas legislativas; Marine Le Pen soma e segue em França, perante um centrismo de direita e de esquerda pouco populares com Fillon e Valls a darem um ar da sua graça e, em Itália, temos o “grillismo” em ascensão e um primeiro ministro derrotado.
Por cá, continuamos envolvidos na espuma dos dias, agora ligeiramente anestesiados por mais dinheiro no bolso que nos permite fazer compras adicionais e nem sequer nos ralamos com o que dizem os jornais, cientes de que “não passam de trivialidades” essas coisas dos ordenados intoleráveis dos gestores da Caixa Geral de Depósitos ou a entrada de mais um grupo chinês ou outro na compra do Novo Banco. Tudo está a ser feito com a maior transparência na medida em que alguns, mais conscientemente distraídos, vão pondo na comunicação social as notícias que não abalam nem perturbam a vida quotidiana dos portugueses.
De verdade, o que é nos dizem e em quem devemos acreditar?
O papa Francisco tem repetido que o mundo está em guerra não de religiões mas de interesses, fragmentados e organizados.
Daqui por alguns meses poderá não ser “só” isso. Onde é que já vimos este filme? Os remakes são terríveis e, na maior parte dos casos, de pior qualidade e com consequências mais devastadoras.
Vivemos no tempo do Advento que é um tempo de esperança. Conseguiremos não a perder? A Fé diz-me que sim, mas a vida real teima em dar outra resposta.