Por Renato Moura
No mesmo dia que o nosso Papa fechou a Porta Santa, abriu as consciências, com a assinatura da Carta Apostólica “Misericordia et Misera”, vincando que na vida de um cristão e na vida da Igreja a acção concreta não se interrompe e jamais termina.
O Papa Francisco insiste na orientação de que o tempo de concretização da misericórdia não acabou e se deve prosseguir o esforço pela respectiva aplicação. A atitude não surpreende, pois que vem na linha do que tem sido a essência do seu pontificado. Novamente agora, como aliás sempre, numa linguagem simples, clara, frontal, na qual todas as palavras contribuem para esclarecer uma cuidada e persistente interpretação do Evangelho. Arrebata corações, atrai fiéis, fascina excluídos e até não crentes.
Francisco ensina que “Deus não põe qualquer barreira a quantos o procuram de coração arrependido” e “nada que um pecador arrependido coloque diante da misericórdia de Deus pode ficar sem o abraço do Seu perdão”, para depois instruir que “nenhum de nós pode pôr condições à misericórdia”, que “deter-se apenas na lei equivale a invalidar a fé e a misericórdia divina”, pois que esta “permanece sempre um acto de gratuitidade do Pai celeste, um amor incondicional e não merecido”.
É reconfortante verificar que neste novo documento o Papa reafirma que a “misericórdia é a própria existência da Igreja”, reconhece a existência da tentação de fazer aplicar uma justiça baseada apenas em “normas”, deseja que se acredite “na força que brota da graça divina”.
A Carta dirige-se a todos, sejam leigos ou padres. A vontade do Papa é que a misericórdia se traduza em actos concretos, que envolvam amor e perdão, “que toda a pessoa sem excepção, em qualquer situação que viva, possa sentir-se concretamente acolhida por Deus”. Mas tem orientações especialmente dirigidas aos sacerdotes, aos quais ele sempre tem confiado grandes responsabilidades no apoio, no conforto, no discernimento, na integração, que deseja se preparem com “grande cuidado”, tanto mais que quer que chegue a todos “a força libertadora do perdão”.
Se como afirmou Francisco “não existe algum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir, quando encontra um coração arrependido que pede para se reconciliar com o Pai”, vem aí um estrada larga para tantos excluídos poderem calcorrear com consciência, com responsabilidade, com fé, mas com esperança de que se reduzam os obstáculos entre os pedidos de reconciliação e o perdão de Deus.
Que a todos, cada qual no seu papel, o Espírito Santo ilumine.