COLÉGIO DE SANTA CLARA – 50 ANOS A EDUCAR

O Portal da Diocese dá voz a ex alunos para memória futura. Hoje Andreia Cardoso e Laura Brasil falam na primeira pessoa.

Andreia Cardoso

Numa altura em que o Colégio de Santa Clara, em Angra do Heroísmo, assinala 50 anos de existência, o Portal da Diocese associa-se à direção do Colégio e volta a publicar mais dois textos de opinião de ex alunos sobre a escola.

 

Desta feita, os textos são da autoria de Andreia Cardoso, empresária e licenciada em gestão e Laura Brasil, cineasta da Associação Cultural Burra de Milho.

 

O Colégio de Santa Clara é uma escola católica Franciscana Hospitaleira, conforme o Carisma da Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, legado pelos seus Fundadores Padre Raimundo dos Anjos Beirão e Madre Maria Clara do Menino Jesus que possui vários níveis de ensino desde a creche, jardim de infância, 1º e 2º ciclos.

 

Santa Clara é o meu Colégio!

 

O Colégio, que é meu e de tantos outros, que já é dos meus filhos e quem sabe dos meus netos, marcou a vida da criança que fui e da mulher que sou.

 

Memórias com trinta e cinco anos, as memórias mais fracas e as mais fortes, mas que tanto gosto de recordar. Algumas já não sei se são só fotográficas, mas outras são certamente reais. Recordo com os meus amigos, os verdadeiros que ainda ficam dessa data, com os meus filhos que vivem o Colégio hoje e com as Religiosas, os professores e professoras que me ajudaram a crescer protegida mas bem preparada para a vida adulta.

 

Desde o refeitório debaixo do palco (no pós sismo), às aulas de ginástica da Irmã Lucinda (única hipótese de vermos uma religiosa sem o véu), às aulas de música da Irmã Açucena, às aulas de folclore do Padre João de Brito, passando pelas sempre esperadas festas de Natal e de Carnaval, nada foi esquecido.

 

A minha professora da primeira classe, Irmã Rosa, com a qual só convivi um ano mas que nunca esqueci o nome e a enorme bondade; a professora Lúcia, da terceira e quarta classe, pela qual tenho até hoje uma grande estima e consideração e da qual, sem grande esforço, recordo o timbre de voz, sobretudo quando era preciso pôr as tropas em ordem.

 

Mas … é sempre com muito orgulho que digo que a minha turma foi a primeira do 5º ano do Colégio de Santa Clara. Essa condição que me confere a mim e aos restantes vinte um estatuto especial… Quem não gosta de se sentir especial! 

 

Quem do meu tempo não se lembra das Diretoras: Irmã Salomé, Irmã Conceição e da Irmã Elvira, que viveram e ainda vivem para servir.

 

Celebrar 50 anos de serviço à educação e ao ensino, é de fato uma Obra! Uma tarefa de mulheres e de homens que com enorme dedicação e amor servem a comunidade em que vivemos.

 

Agradecendo à Irmã Helena, agradeço a todos quantos guiam os nossos filhos de forma responsável e atenta às transformações da sociedade global.

 

Ex-aluna do Colégio de Santa Clara

Andreia Cardoso

 

 

Laura Brasil

Vasculhei em todos os álbuns da casa na esperança de encontrar aquela fotografia. Mochila vermelha, bata às riscas comprada na semana anterior. Cara livre dos óculos que chegariam um ano depois. Estava na varanda de minha casa e era manhã cedo. Na noite anterior a mãe ajudara-me a escolher a roupa que levava debaixo do riscado rosa e branco e, juntas, tínhamos programado um estojo completo para pôr dentro daquela mochila.

 

Lembro-me bem desse momento: de me pôr de lado e de não perceber o porquê de me quererem fotografar. Era o primeiro dia de aulas e ia ter uma professora nova. Ia para um colégio, para uma sala em que os meninos eram chamados de elefantes. Durante anos, não percebi o porquê daquele nome. Era nova demais para perceber a importância daquele mundo novo. O mundo que me faria começar a crescer.

 

Hoje continuo na fotografia e na memória. E a memória leva-nos a sítios e tempos incríveis. Hoje, aquela mochila e aquelas riscas e aqueles olhos sorridentes são bem mais do que mochila e riscas e sorrisos nos olhos de criança. São o símbolo de uma vida em que me tornei. E quando os problemas começam a transbordar neste mundo adulto, secretamente, quero voltar ao tempo daquela fotografia. Ao tempo em que era tão pequena mas ao mesmo tempo era elefante, depois de cinco anos feitos há poucos dias.

 

Os anos passados naquele colégio foram um nascimento primaveril do conhecimento sobre mim: a magia da escrita, o gosto pelas artes, a inteligência emocional e social, a responsabilidade pelo trabalho e o amor pelos outros. Foi lá que descobri o pensamento, foi lá que percebi que o sabia passar para o papel, para o imaginário das histórias que hoje escrevo, represento e transformo em imagens. E todos os contos que a Sandra nos lia serviram para isso. E todas as cópias que a professora Cristina passava, e que eu às vezes fazia de véspera para as adiantar, serviram para isso. E todas as composições – as frases acumuladas a que chamávamos de escrita, aos sete anos – e que eu escrevia à noite e decorava para fazer no dia seguinte, serviram para isso. E prepararam-me para hoje. E as aulas de ballet, às terças e quintas feiras, e as aulas de música, às cinco horas da tarde, e as aulas de inglês que, no quinto ano, nos infernizavam a vida: tudo isso faz parte de mim hoje. Para não falar nas numerosas festas de natal e nas atividades que fizemos para alcançar o objetivo da viagem de finalistas. Não fosse isso e hoje seria bem mais pobre. E não seria eu.

 

Hoje ainda sei o preço e a vontade desses sonhos. E ainda sei fazer o plié, e dar a escala no xilofone e não erro na gramática dos nossos vizinhos ingleses. E ainda escrevo à noite. Este texto escrevo-o à noite porque é daqui que me vem a inspiração. Pego na caneta porque a Irmã Helena, que sempre acreditou em mim, me pediu: falar sobre o Colégio de Santa Clara entre 500 e 700 palavras. Ou seriam caracteres? Numa ou noutra extensão, o que ela me pede é impossível. Foram sete anos da minha vida que não se resumem e que não conseguem ser descritos em papel. Sete anos que passaram a correr já há muito tempo. Mas, para uma criança, sete anos significam uma vida. Descrever o colégio é falar de toda uma infância – e de tantas infâncias que por lá passaram ao longo de cinquenta anos: cinquenta anos. E se tanto fizeram por mim, o que não terão feito a várias gerações de uma pequena ilha onde é impossível não conhecer esta escola?

 

Hoje, para além das memórias e das fotografias, ficam cá dentro a minha primeira viagem de barco, aos cinco anos e a primeira a França, com doze. Fica um pequeno livro escrito aos nove anos – e publicado aos doze – que de vez em quando retiro da prateleira. Ficam os amigos, alguns que nunca mais vi, mas todos cravados no coração e os professores, que continuo a abraçar, depois de atravessar a rua, para lhes dizer olá.

 

Um obrigada só não chega. Porque este colégio não é só isso. Para falar dele é preciso, primeiro, olhar para mim e para todos os que lá estudaram. Pois é o futuro de cada um que o define. Este colégio é cada um de nós.

 

Ex-aluna do Colégio de Santa Clara

Laura Brasil

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