Divisão dos cristãos e «Brexit» nas preocupações dos participantes
O congresso ‘Juntos pela Europa’, que começou hoje em Munique (Alemanha), defendeu que cinco séculos de separação entre cristãos, desde a Reforma de Lutero, já são demais.
A divisão dos cristãos europeus em 1517 – depois do Cisma do Oriente, há quase mil anos – tornou patente um testemunho deficiente do Evangelho, afirmou Gerhard Proß, um dos coordenadores da iniciativa.
O ‘Juntos Pela Europa’ é uma rede ecuménica de 300 movimentos e comunidades católicos, ortodoxos, reformados e anglicanos de todo o continente.
“Hoje é imperioso, por isso, dar testemunho de unidade, ainda mais num continente que atravessa um momento de profunda crise e divisão”, afirmou aquele responsável, na abertura do congresso de Munique.
“Depois do ‘brexit’, da semana passada, não podia haver um melhor momento para dar um testemunho de unidade”, afirmou Proß.
O cardeal Walter Kasper, ex-presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos, referiu também o referendo da ultima semana, no Reino Unido: “A unidade da Igreja é mais importante ainda, num momento em que a unidade da Europa está em perigo”.
“Enquanto cristãos, católicos ou evangélicos, temos de mostrar que o amor é mais forte do que o ódio, para que seja possível vivermos em conjunto na Europa, sem medo”, acrescentou.
Como exemplo concreto, disse que, depois de ter integrado celtas, normandos e outros povos ao longo da sua história, a Europa tem de saber fazer o mesmo com os muçulmanos: “Os problemas do mundo vêm ter connosco e não são estatísticas, são pessoas com rosto”.
O projecto europeu, construído depois da “tragédia” da II Guerra Mundial, por ex-inimigos que se reconciliaram, deve continuar a mostrar que as décadas de paz que se garantiram no continente não foram “sonho, mas realidade”.
A economia “é a base da vida mas não é o sentido da vida”, disse ainda Kasper. “A Europa precisa de mais do que só de economia.”
Também o bispo luterano alemão Heinrich Bedford-Strohm, que já presidiu ao Conselho Nacional das Igrejas Evangélicas (protestantes) da Alemanha, perguntou: “Depois do ‘Brexit’, o que devemos fazer a partir do Evangelho?”
“A Europa tem necessidade de uma nova força espiritual, porque não é só a economia que dá força”, respondeu.
“Devemos ser capazes de colocar no centro a dignidade da pessoa humana e é por isso que devemos continuar a falar de refugiados”, prosseguiu.
A presidente do Movimento dos Focolares, Maria Voce, que participou na conferência de imprensa de apresentação da iniciativa, esta manhã, sublinhou também que “a tendência para o aumento dos nacionalismos e do racismo são fruto de uma Europa que esqueceu os seus valores”.
Depois da fundação da rede em 1999, o Juntos pela Europa teve já iniciativas em várias cidades europeias.
No congresso de Munique, participam cerca de duas mil pessoas, oriundas de 200 movimentos e 40 países.
O congresso, que inclui dois dias de sessões plenárias e debates temáticos, termina no sábado com uma manifestação pública no centro de Munique, que inclui música e intervenções de vários responsáveis de diferentes igrejas e movimentos.
Na ocasião, serão divulgadas mensagens do Papa Francisco, do patriarca ortodoxo Bartolomeu, de Constantinopla, e de outros líderes de diferentes igrejas cristãs.
A iniciativa vai estar em destaque ao longo da próxima semana no Programa ECCLESIA, na Antena 1 da rádio pública, de segunda a sexta-feira (22h45).
(Com Ecclesia)