Igreja é chamada a anunciar Cristo ressuscitado
Contemplar o rosto de Jesus de Nazaré perante a imagem do Senhor Santo Cristo é “deslocarmo-nos até ao pretório onde se inicia o caminho doloroso de Cristo”, mas esta contemplação “exige que nos abramos à vitória de Jesus sobre o pecado, o sofrimento e sobre a morte, pela Sua Ressurreição”, disse esta tarde em Ponta Delgada o bispo de Angra no sermão da primeira grande celebração religiosa da Festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que arrancou a noite passada na ilha de São Miguel.
Diante da imagem, já no coro alto, depois da procissão da mudança, D. João Lavrador, que preside pela primeira vez a estas festas, destacou a centralidade de Cristo ressuscitado lembrando que Jesus Cristo não é um “princípio abstracto”, mas uma pessoa que ama, que escuta e que fala, desafiando-nos a compreender o mundo.
“Convido a contemplarmos o rosto de Jesus de Nazaré e a partir da Sua imagem deixarmo-nos conduzir até ao Seu mistério. Ele verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Jesus de Nazaré, o nosso Salvador e Redentor. Só n’Ele poderemos alcançar a salvação” disse o bispo de Angra no seu sermão.
“Perante as grandes perguntas que o ser humano coloca acerca de si mesmo e acerca de Deus, confrontados pelas ideias deformadas que a pessoa imersa na cultura actual, manipuladora do humano e do divino projecta sobre a realidade que a envolve, desafiados pela permanente procura de sentido para a vida mesmo no meio de tanta indiferença, somos incentivados a percorrer os caminhos da contemplação a partir das Escrituras Sagradas” destacou ainda lembrando que hoje vivemos uma cultura em que não basta afirmar que Deus existe “como que o temos de mostrar”. E esse caminho, segundo o prelado faz-se pela “escuta da palavra”, no “silêncio e na oração”, únicas vias para desenvolver o “conhecimento mais verdadeiro, aderente e coerente do mistério de Deus”.
“Jesus de Nazaré é verdadeiramente o Homem novo e n’Ele se contempla a nova criação tal como Deus a sonhou”.
Embora reconheça que a cruz é um ponto essencial na vida do homem, D. João lavrador lembra que não pode ser um fim e por isso a igreja deve “olhar para Jesus ressuscitado”, testemunhando e anunciando.
“Eis a exigência missionária de todos e cada um dos cristãos” referiu, lembrando que os que seguem Jesus têm de experimentar a integração na comunidade.
“Não recusemos a exigência da missão que brota da contemplação de Jesus de Nazaré e nomeadamente da imagem do Santo Cristo que nos conduz até ao mistério de Jesus o Filho de Deus”, afirmou ainda. E, acrescenta: “aceitemos o desafio a um novo impulso para a vida cristã, tanto pessoal como comunitária, e façamos eco da mesma inquietação de Pedro quando se questionava: que havemos de fazer”.
A Procissão da Mudança é a primeira grande marca desta festa e acontece quando o provedor da Irmandade bate à porta do carro, no Convento da Esperança e as religiosas entregam a veneranda imagem que, durante dois dias, fica à guarda da Irmandade.
Além de percorrer o Campo de São Francisco, acompanhada de inúmeros fieis que cumprem as suas promessas, a imagem fica depois durante uns momentos no adro da igreja do Santuário e regressa ao coro alto de onde sairá à noite, em procissão de velas, para a Igreja de São José, onde pernoita em vigília de oração animada por vários grupos e sacerdotes. No domingo, é celebrada a missa campal no adro da igreja do Santuário e Campo de São Francisco, seguida de procissão solene, percorrendo as principais artérias de Ponta Delgada, num giro que passa em todas as igrejas e conventos da cidade.
As ruas de Ponta Delgada são “vestidas” de tapetes de flores naturais e as varandas cobertas com colchas. Este giro, habitualmente, demora quatro horas a ser percorrido.