Uma açoriana a caminho das terras de Genghis Khan

Sara Ferreira, natural de Ponta Delgada, parte no princípio do verão para a Mongólia. Na bagagem leva a única bússola que conhece: a palavra de Deus.

Aos 24 anos, já com algum Caminho percorrido na primeira comunidade neocatecumenal da paróquia de São José, em Ponta delgada, Sara Ferreira, com a voz trémula e algum embaraço está nervosa. Não pela partida mas por causa da entrevista, confessa.

 

“Não estou habituada a estas coisas”, explica mas a conversa vai fluindo e o desejo de partilhar o que a move começa a vir ao de cima.

 

“Sinto que estou a fazer-Lhe a vontade e que estou ao serviço d’ Ele. por isso sinto uma grande paz interior” adianta Sara, administrativa na empresa familiar, que dá como adquirido que esta experiência “vai ser uma evangelização para mim”.

 

Partirá numa missão ad gentes, no princípio do verão, rumo à Mongólia. Com ela vão mais 29 “irmãos” que serão a sua família nos próximos tempos.

 

“Só tenho bilhete de ida…logo se vê  como corre… não costumo criar muitas expetativas; coloco-me na mão de Deus já que estou a cumprir a sua vontade”, diz com a certeza inabalável, semelhante à que o guerreiro Genghis Kahn teve ao derrotar o inimigo chinês para construir o grande império Mongol, no século XIII, livre do jugo da China.

 

Nessa altura chegou às estepes da Mongólia a primeira igreja católica que haveria de desaparecer no ano de 1368 com a chegada da dinastia Yuhan.

 

Desde então só voltou a haver missionários cristãos após a Guerra do ópio, em meados do século XIX, mas com uma curta estada.

 

Bastou um ano para que a chegada dos comunistas inviabilizasse qualquer projeto cristão ou outro pois foi proíbida a liberdade religiosa.

 

Os cristãos mongóis (cerca de 400) teriam  de esperar pela instauração do regime democrático em 1991 para voltar a rezar, enquanto comunidade, em liberdade, e, assim, prosseguirem a sua religião de forma aberta.

 

É nessa altura que regressam os missionários e formam na capital, Ulaanbaatar, um centro de apoio às crianças da rua liderado pela Congregação do Imaculado Coração de Maria.

 

É criada a Diocese em 96 e o Papa João Paulo II chega mesmo a equacionar uma deslocação à Mongólia que acabou por nunca se concretizar.

 

A intuição de João Paulo II apontava mesmo para a grande oportunidade que seria a evangelização do Oriente, neste terceiro milénio.

 

“Não me preocupo… sei que a minha missão está escrita há muito tempo e por isso só tenho de a seguir”, lembra Sara Ferreira confirmando que vai seguir o seu Caminho que “há de ter altos e baixos” mas que será sempre “na companhia de Deus” porque “é ele que me guia”.

 

Tal como as famílias e outros jovens da sua idade, Sara deixa tudo para trás.

 

Não esconde a aventura que encerra esta missão, “de conhecer novas gentes, novas culturas” mas sabe que tem de estar focada “naturalmente na alegria do Evangelho” que irá partilhar com os locais, esmagadoramente budistas (96% da população Mongol), mas se eles “acreditarem no amor incondicional de Deus já é uma vitória”.

 

“Nós somos apenas instrumentos” acrescenta não escondendo que gostaria que a missão tivesse sucesso. “É óbvio que sim mas se não correr bem no princípio há que caminhar” porque “Deus não gosta apenas de nós quando fazemos coisas boas”.

 

Sara sabe que o povo Mongol, que a vai acolher, é guerreiro mas também é sofredor e isso pode “ser uma vantagem” porque “estarão mais disponíveis para nos ouvir”.

 

No próximo dia 1 de Fevereiro Sara volta a encontrar-se, em Roma,  com os seus irmãos neocatecumenais com os quais partirá para a Mongólia em junho ou julho. Para trás deixa a família biológica que “entre o choro e a alegria desta bênção compreenderá que este é o meu Caminho”.

 

A Sara é a única açoriana do Caminho Neocatecumenal que parte numa missão ad gentes que será abençoada pelo Papa Francisco no próximo dia 1 de fevereiro no Vaticano para cumprir uma missão nos quatro continentes.

Ao todo são 75 famílias, oito das quais portuguesas que partem para uma Nova Evangelização nos quatro continentes.

 

São membros do Caminho Neocatecumenal que nasceu há 50 anos em Espanha, por iniciativa do pintor e músico Kiko Argüello e da missionária Carmen Hernández e é reconhecido pela Igreja Católica como “um itinerário de formação católica válido para a sociedade e os dias de hoje”, assente em três pilares fundamentais: a palavra de Deus, a Eucaristia e a vida em comunidade.

 

Atualmente o Caminho Neocatecumenal está implantado também em algumas nações tradicionalmente não cristãs, como China, Egito, Coreia do Sul e Japão.

 

No que diz respeito à missão ad gentes, o grupo católico conta atualmente com mais de “230 famílias a trabalharem em 52 cidades”, realça o comunicado do serviço informativo do Vaticano.

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