Bispo de Angra fala do significado da inclusão de mulheres no rito do Lava-pés e do mistério pascal
No seu primeiro Tríduo Pascal, ao serviço da diocese açoriana, D. João Lavrador pede “que cada um viva com profundidade aquilo que na sua consciência realmente sente como apelo”.
Em declarações ao Sítio Igreja Açores no final da Celebração da Ceia do Senhor, esta quinta feira, o bispo de Angra fala do mistério pascal e dos desafios que ele coloca na vida do quotidiano.
“Este é um tempo muito marcado em termos da fé cristã e apelo a que os cristãos vivam intensamente este tempo da síntese desta nossa fé. Pela paixão, pela morte e pela ressurreição de Jesus Cristo e, naturalmente por esta celebração de hoje que é emblemática”, acrescenta.
“Eu apelava a que os cristãos sentissem em profundidade estes dias” disse ainda o prelado deixando “um abraço afetuoso para que o Senhor os abençoe e que a graça da ressurreição a todos cative e atinja”.
“Gostava que todos vivessem a esperança, mesmo que neste momento se sintam mais tristes e com menos coragem por situações difíceis na sua vida, o cristão deve viver sempre na esperança de que o Senhor há-de intervir e que nós, como cristãos, devemos fazer o milagre da alegria e cantar Aleluia no Domingo de Páscoa”, concluiu.
Quanto ao que “deve morrer” com Jesus nesta Páscoa, D. João Lavrador é muito claro: ” os motivos pelos quais ele morreu. Para nos resgatar da morte, do mal, do pecado. Devíamos, de uma vez por todas, destruir o mal, o sofrimento e o pecado. E isto só se consegue precisamente através do amor, através da entrega, através do afeto, através desta relação a que somos chamados a estabelecer uns com outros, a sermos todos irmãos porque foi isto que Jesus Cristo veio trazer” para fazer “de nós criaturas novas”.
“Temos de matar o sofrimento, matar a pobreza, matar a marginalidade e matar todas essas coisas que não dignificam o ser humano porque Jesus Cristo resgatou-nos do mal e do pecado precisamente para fazer de nós criaturas novas. Ele quer instaurar uma nova criação. Ele quer que este universo cante os louvores de Deus e é para isso que temos de contribuir”.
Em declarações ao Sítio Igreja Açores, no final da celebração da Ceia do Senhor, que integrou o gesto do lava-pés, o prelado diocesano falou da inclusão de mulheres neste rito.
O papa Francisco decretou que todos, sem exceção, deveriam marcar presença no rito. Começou por testemunhar essa vontade quando lavou os pés a 12 jovens de várias nacionalidades e religiões, incluindo duas raparigas numa prisão juvenil, em 2013.
Este ano a Diocese de Angra incluiu 6 mulheres no grupo de apóstolos.
Maria Leonor Silveira foi uma das 6 escolhidas e depois da cerimónia mostrou-se muito feliz por estar incluída na celebração como se estivesse “a recordar daquele dia da última ceia. Comparamos com o nosso dia a dia. Foi muito especial. Gostei muito. E acho que o Papa Francisco é uma criatura extraordinária. Foi um enviado de Deus extraordinário no momento certo em que o mundo precisa.”
Já Fernanda Gonçalves não foi estreante como apóstolo: “eu já fiz parte de uma celebração de lava pés há alguns anos, na paróquia de São Mateus, com o padre Marco Gomes. Aí sim, foi uma grande novidade para mim. Não estava à espera de ser convidada porque na altura não era comum. Mas ele foi um pioneiro nesta questão. Hoje repetiu-se. O Papa Francisco insiste numa presença mais ativa das mulheres na liturgia e também o bispo D. António de Sousa Braga, antes de se retirar, deixou isso bem assente.”
Para D. João Lavrador esta inclusão simboliza mais do que uma simples mudança de género.
“O Santo Padre, ao alterar o ritual, pretende significar todas as condições, todos os estratos sociais, todas as idades e, portanto, toda a realidade social e eclesial” refere o prelado.
“Este ano ainda não foi possível organizar nesse sentido mas de futuro o ritual terá homens, mulheres, jovens, adultos, crianças, pessoas marginalizadas, pobres e até, se possível, presos”, precisou.
“O Papa Francisco pretende mostrar que o serviço de Cristo ao lavar os pés aos apóstolos simboliza o que a igreja deve fazer a todos sem exceção e por isso é que ele quer esta diversidade que não se cinge à inclusão de mulheres”, esclarece o bispo de Angra.
- João Lavrador acredita que a igreja está a crescer e a acompanhar a evolução social: “a Igreja vai crescendo também com a própria sociedade e vai atribuindo o lugar que compete a cada pessoa.”