O Pai misericordioso

Por Renato Moura

Estamos a viver o ano consagrado à misericórdia. Por isso as leituras bíblicas que nos são oferecidas nas missas e têm especial relação com o tema, impelem a uma reflexão mais intensa. Assim foi nos últimos dois domingos, em que, no primeiro, o evangelho de S. Lucas nos lembrava a parábola conhecida como do filho pródigo e, no segundo, o evangelho de S. João nos recordava a cilada armada a Jesus a propósito da mulher adúltera.

A parábola pretendeu ensinar-nos que um filho, apesar de ter abandonado a casa do pai e esbanjado tudo o que levara numa vida dissoluta, teve humildade, fé e confiança e voltou a casa reconhecendo os seus erros, o que bastou para merecer o imediato perdão do pai, que promoveu uma grande festa para assinalar o regresso.

Já no episódio da mulher adúltera vemos o confronto de Jesus com a lei, que mandava apedrejar até à morte quem como tal fosse surpreendida. Mas Jesus, completamente ao contrário do que poderiam supor os escribas e fariseus, disse-lhes que de entre eles quem estivesse sem pecado atirasse a primeira pedra. Todos saíram sem enviar pedra e Jesus perdoou-lhe, mesmo sem ela formalmente o pedir, com um “vai e não tornes a pecar”.

Estes ensinamentos são aproveitados pela Igreja – e muito bem – para aprendermos a saber perdoar os que nos têm ofendido e a ser misericordiosos com todos aqueles que nos rodeiam e o façamos sem ser a troco de nada.

Como foram os ensinamentos de Jesus, eles têm de ser farol de orientação para todos, até também (especialmente – atrevemo-nos a afirmar) para a hierarquia da Igreja, a todos os seus níveis.

Sabemos que há filhos que regressaram à Casa de Deus, mas isso não constituiu motivo para festa e alguns deles não são sequer convidados para a Ceia do Senhor! Como também sabemos que há filhos que não saíram da Casa de Deus e que, como o outro filho da parábola, têm dificuldade em aceitar os regressos e porventura nunca pensaram se sinceramente teriam coragem para atirar a pedra!

Realmente a Igreja é uma organização demasiado grande para mudar, seja o que for, sem dificuldade.

Mas não será porventura difícil de aceitar que haja quem exclua, quando Jesus ensinou que há motivo para festa, pois que o filho “estava perdido e foi reencontrado”? Ou quem condene, quando Jesus disse “Nem eu te condeno”?

O ano da misericórdia, precedido pelo Sínodo, criou expectactivas. Como S. José, tenhamos confiança.

Seja como for, que ninguém desespere, pois que o juízo final é sempre e só de Deus e esse é, sem dúvida, um Pai misericordiosos.

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