Clero açoriano deixa “caderno de encargos” ao novo Bispo de Angra

Sacerdotes ouvidores esperam um bispo “próximo” e “firme”

A proximidade ao presbitério e ao laicado, aliada a uma certa ideia de firmeza são duas das expetativas que o clero açoriano tem em relação ao perfil da ação do novo bispo diocesano, que a partir desta terça feira liderará a diocese de Angra, nos próximos anos.

Num momento em que a Diocese iniciou um caminho quase pré sinodal, procurando conhecer a realidade em que está inserida, os desafios que ela coloca e as respostas que a igreja deve dar, a maioria dos ouvidores destaca a aposta na “educação para a fé”, num “olhar atento à realidade social” e  “um compromisso sério e profundo de toda a estrutura da igreja” percorrendo o caminho “da nova evangelização” para se “afirmar no presente e no futuro”.

“A sugestão que deixo como trabalho para todos nós e para a liderança de  D. João Lavrador prende-se com este pensamento: o futuro da Igreja nos Açores está na presença da Igreja no presente e no futuro do mundo das nossas ilhas” refere o Pe José de Medeiros Constância, cónego capitular da Sé de Angra e ouvidor de Ponta Delgada, a maior ouvidoria da diocese em número de habitantes.

“Só uma Igreja que também se considera mundo e Reino de Deus nestas ilhas ao serviço do qual está, poderá fazer trabalho forte de transformação cristã”, sublinha.

Um reforço e uma atenção “especial” ao Conselho Pastoral diocesano é o que pede o decano dos ouvidores, Pe António Cassiano.

“D. João Lavrador foi bem `aconselhado´ pelo Conselho Presbiteral, mas bom será que, a curto prazo, dê o devido valor ao Conselho Diocesano de Pastoral, como o órgão mais representativo da Igreja diocesana”, lembra o sacerdote.

O ouvidor de Vila Franca do Campo quer igualmente que seja criado o “Serviço Diocesano para a Formação Cristã, transversal a todas as áreas da pastoral, e nomeie, para a ilha de São Miguel, um vigário seu que acumule, por inerência, o cargo de reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres”, afirma.

“Espero que a entrada de D. João traga um novo ânimo não só às comunidades, mas também aos sacerdotes e que seja um estímulo para todos trabalharem de forma séria e empenhada,  assumindo cada um as suas responsabilidades” refere, também, o ouvidor eclesiástico da ilha Terceira e membro do Cabido Catedralício, cónego António Henrique Pereira.

“Que tenha uma estratégia clara e firme para esta parcela da Igreja que forma a Diocese de Angra” acrescenta ainda o sacerdote que é também o atual responsável pelo Serviço diocesano da Evangelização e Catequese. Uma questão igualmente prioritária para o ouvidor da Lagoa, na ilha de São Miguel.

“Considero ser prioritária a questão da educação da fé. Sem jovens não há futuro. A transmissão da fé às novas gerações passa pela família e, atualmente a família não desempenha a sua missão”, refere o Pe Pedro Coutinho, responsável pelo Centro Missionário dos Sacerdotes do Coração de Jesus, em São Roque.

“A catequese (atualmente) não forma para a vida e a vida da maior parte das famílias não forma para a fé. Este é o grande desafio que é transversal a todos os outros para que a família volte a ser a igreja doméstica”, refere ainda o sacerdote.

“Presença social”, sem “descorar o diálogo e as preocupações para com o presbitério desta Diocese muito valorizado no Episcopado de D. António”, são por seu lado as prioridades manifestadas pelo ouvidor dos Fenais da Vera Cruz, Pe Carlos Simas.

“Julgo que vivemos um tempo de esperança como acontece sempre que vem um Bispo novo” diz por seu lado, o ouvidor da Graciosa, Pe Sérgio Mendonça.

“A prioridade que deverá ter em conta, no meu entender, será a continuação desta construção de união entre a Diocese e o povo açoriano”, acrescenta.

Nesta linha vão, também, as questões levantadas pelo ouvidor da Povoação, Pe Ricardo Pimentel.

“A sua vinda (D. João) tem sido uma surpresa muito, mas muito agradável” afirma o sacerdote.

“Talvez por ser diocesano, um homem seguro, com convicções bem assumidas e com grande capacidade de liderança, tem-se manifestado o bispo certo, na hora certa” acrescenta sugerindo a “formação laical como veículo de Nova Evangelização”, como a prioridade.

“Espero que o novo Bispo D. João Lavrador seja um bom pastor, a exemplo de Jesus, próximo e acolhedor, e que crie unidade na Diocese, tratando todas as ilhas de igual forma”, refere por seu lado o ouvidor das Flores, Pe Ruben Sousa, o mais jovem ouvidor da diocese.

“D. João traz-nos a sua experiência pastoral, ao jeito do Papa Francisco, não só pelo acolhimento, mas no facto de a Igreja ser portadora de Diálogo com a Sociedade em que está inserida e com o mundo que a contorna,” refere por seu lado o ouvidor das Capelas.

“Acredito que na génese do seu episcopado estarão três realidades: Igreja, Diálogo e Mundo. E nesta vertente citando-o será mais “um Açoriano entre Açorianos”, destaca ainda o Pe Horácio Dutra.

O ouvidor do Pico lembra, por seu lado, que o desafio principal do novo bispo de Angra é “o constante desafio da Igreja”, isto é, “a sabedoria para anunciar a Boa Nova e apascentar ao jeito do Bom Jesus os homens e mulheres que hoje fazem desta Diocese a porção do Povo de Deus destas ilhas açorianas”.

D.João Lavrador, que já percorreu a quase totalidade das ouvidorias da diocese, acompanhando a imagem da Virgem Peregrina, participou pela primeira vez num conselho presbiteral diocesano e quando se dirigiu aos sacerdotes presentes (muitos dos que falam nesta reportagem) deixou claro que quer uma igreja capaz de promover uma ação atenta à realidade de cada paróquia, nas várias ilhas.

“O sonho prolonga as nossas capacidades, colocando-nos para além daquilo que achamos que podemos fazer, mas não nos podemos esquecer que os sonhos têm que estar muito em consonância com aquela que é a realidade diocesana, da ilha e da paróquia”, disse D. João Lavrador.

No Seminário Episcopal de Angra, o prelado recordou que a Igreja nos Açores “não pode” deixar de olhar para a dinâmica da Igreja Universal “acompanhando-a” sempre “presa à realidade específica”.

“Só assim desenvolveremos uma pastoral correta”, sublinhou o bispo coadjutor que está “empenhado em perceber como está a ser vivido e vai ser vivido o Ano Santo da Misericórdia”, referiu.

Segundo o prelado, a visita da imagem peregrina de Nossa Senhora fez com que “esta vivência” fosse clara para todos mas agora é preciso fazer “uma avaliação” sobre esse tema “absolutamente fundamental”.

“A misericórdia traduz-se nos gestos da vida pastoral e saber como a vivemos, como a traduzimos e a exprimimos nas diferentes dimensões, seja na pastoral seja nos movimentos ou nos sacramentos é muito importante”, desenvolveu D. João Lavrador.

Neste contexto, observou que a vida pastoral tem que “ser envolvida pela misericórdia”, primeiro na relação com Deus e depois com os outros, comparando-a com a teoria dos vasos comunicantes.

“Na teoria dos vasos comunicantes o líquido tem de circular e circula para as pontas. Aqui são os que estão na periferia, os excluídos e por isso, é para eles, que temos de orientar a misericórdia; ela tem de ir para onde há mais necessidade”, explicou.

“A misericórdia não é uma questão de equidade mas uma questão de prioridades e de necessidades”, concluiu o novo bispo de Angra.

 

 

 

 

 

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