Uma das mais antigas paróquias de Ponta Delgada está em festa. A passagem do terceiro centenário da construção da sua igreja paroquial servirá para recuperar memórias e vivências que estimulem a edificação do presente e do futuro.
A igreja paroquial de São José, no coração da cidade de Ponta Delgada, paredes meias com o Convento da Esperança e o Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, assinala este ano os 300 anos da sua edificação e consagração como lugar de culto.
As comemorações iniciaram-se no último dia do ano com a inauguração da Capela do Santíssimo, depois das obras de restauro realizadas ao nível dos retábulos, da porta do Santíssimo e dos gessos.
“Tratou-se de uma obra relativamente rápida, cara mas para a qual houve uma enorme sensibilidade dos paroquianos que contribuíram massivamente através de um generoso contributo financeiro (17 mil euros angariados em 5 meses) o que prova que as pessoas estão muito sensibilizadas para a necessidade de preservar o seu património e conscientes de que ele é a expressão da sua própria identidade enquanto povo”, disse ao Portal da Diocese o responsável pela paróquia de São José, Pe Duarte Melo.
Além desta inauguração, foi lançado o catálogo que materializa “um árduo” processo de inventariação e catalogação do acervo desta igreja paroquial, antes dedicada a Nossa Senhora da Conceição, padroeira do Convento Franciscano de Ponta Delgada, e que foi iniciado há dois anos.
Para além de registo documental, este catálogo servirá igualmente para chamar a atenção para as “diferentes gramáticas e toponímias artísticas e estéticas da paróquia de São José, enquanto suportes teofânicos”, diz ainda Duarte Melo.
As comemorações do terceiro centenário deste lugar de culto vão ser pontuadas ao longo do ano por vários momentos e iniciativas que estão a ser desenvolvidos por um grupo de trabalho, composto por cinco paroquianos – João Bosco Mota Amaral, Luís Filipe Carreiro, Isabel Albergaria, Maria José Lemos e Rogério Massa- que irá ser o principal responsável pela organização e dinamização dos eventos.
Entre eles estão espetáculos musicais, para os quais estão especialmente convocados o Coral de São José e a organista residente Isabel Albergaria Sousa, exposições, conferências e “tudo o que revele a história, a memória, as vivências e, sobretudo, a importância deste espaço quer como lugar de fruição estética quer como de culto ao serviço do Evangelho”, adianta ainda Duarte Melo.
Das iniciativas previstas há duas particularmente importantes: a elaboração de uma monografia histórica sobre a igreja e a comunidade que nela se reúne ao longo de três séculos, numa parceria com a Universidade dos Açores e, por outro lado, a elaboração de um levantamento sociológico da comunidade que atualmente tem a sua referência religiosa nesta igreja.
“Queremos desenvolver estruturas de reflexão a partir da nossa realidade sociológica para podermos pensar e situar-nos como igreja nos dias de hoje”, refere o responsável da paróquia reconhecendo ao mesmo tempo “que é preciso colocar a igreja de olhos postos na realidade presente e não ancorada em realidades passadas que já levam 20 anos e que estão mortas”.
Esta Igreja desenvolveu sempre “um pioneirismo” de intervenção social ao serviço dos mais pobres e excluídos, desde logo pela sua localização geográfica, mas também devido à existência de vários sacerdotes que dinamizaram a pastoral social, com muita militância, como por exemplo o Monsenhor Almeida Maia.
“Se há igreja que tenha este aspeto missionário é esta” refere Duarte Melo que acentua que “não é uma igreja de sacristia mas uma igreja que concretiza o espírito do Concílio Vaticano II” e, por isso “vai ao encontro daquilo que é a proposta missionária do Papa Francisco”, destacando-se muitos projetos de intervenção social como o apoio ao atendimento e integração dos repatriados, o acolhimento de vitimas de violência doméstica num centro que foi o segundo do país, o projeto São Lucas (que apoia 50 famílias diariamente) ou ainda o projeto Indigências.
“O nosso objetivo é celebrar um igreja viva, militante e atuante face aos problemas concretos”, conclui Duarte Melo.
Como lugar de culto, a igreja irá celebrar com “particular solenidade” as habituais festas da paróquia, incluindo a procissão com o Santíssimo Sacramento, por altura do Coração de Jesus, estando igualmente previsto um momento que será presidido pelo Bispo de Angra.
“A valorização do culto da Eucaristia na Capela do Santíssimo, agora restaurada, será igualmente uma constante” porque as questões “ligadas à fé são muito importantes”, conclui.
A igreja de São José foi construída entre 1709 e 1714, data em que foi transladado o Santíssimo Sacramento para o novo edifício e constitui um dos exemplos “mais emblemáticos” da arquitetura religiosa açoriana.
A Igreja de Nossa Senhora da Conceição, do antigo Convento de São Francisco, está instalada no lado poente do Campo de São Francisco, em Ponta Delgada e combina “uma fachada altiva” com “um generoso espaço interior dividido em três naves, projetando os arcos de volta perfeita sobre pilares de seção quadrangular a uma altura considerável o que contribui para a vaga sensação de igreja salão que contraria as proporções atarracadas dos templos açorianos” refere Isabel Soares Albergaria no texto do Catálogo “igreja Paroquial de São José, património móvel e imóvel” que acaba de ser lançado.
No interior destacam-se ainda os altares decorados em talha dourada e os os painéis de azulejos datados do século XVIII (azuis e brancos).
A igreja encontra-se decorada com estátuas dos séculos XVII e XVIII, de influência hispano-mexicana. Na sacristia destaca-se o mobiliário barroco em jacarandá.
Ao lado direito da Igreja encontra-se a Capela de Nossa Senhora das Dores, cujas janelas são consideradas um dos mais representativos exemplos do estilo barroco de São Miguel.
Esta Capela, antigamente utilizada para velar os mortos está em avançado estado de degradação e a par da Capela da Ordem Terceira, constituem as duas prioridades em termos de conservação e restauro.