Papa alerta para «delírio de omnipotência» do ser humano que ignora quem sofre

Mensagem para o novo tempo litúrgico centrada na misericórdia e no serviço aos pobres

O Papa Francisco alerta na sua mensagem para a Quaresma 2016, que começa esta quarta-feira, para o “delírio de omnipotência” do ser humano, que o leva “a ignorar quem sofre e a esquecer Deus”.

“Tal delírio pode assumir também formas sociais e políticas, como mostraram os totalitarismos do século XX e mostram hoje as ideologias do pensamento único e da tecnociência que pretendem tornar Deus irrelevante e reduzir o homem a uma massa possível de instrumentalizar”, escreve.

A mensagem intitulada “Prefiro a misericórdia ao sacrifício. As obras de misericórdia no caminho jubilar” aponta o dedo a “estruturas de pecado” ligadas a um modelo de “falso desenvolvimento fundado na idolatria do dinheiro”.

Este modelo torna as pessoas e as sociedades mais ricas “indiferentes ao destino dos pobres”, recusando-se “mesmo a vê-los”.

Segundo o Papa, apenas o amor de Deus pode dar resposta à “sede de felicidade e amor” de cada um, algo que “o homem se ilude de poder colmar mediante os ídolos do saber, do poder e do possuir”.

“O pobre mais miserável é aquele que não aceita reconhecer-se como tal. Pensa que é rico, mas na realidade é o mais pobre dos pobres”, adverte.

A mensagem realça o “perigo” de os soberbos, os ricos “acabem por se condenar” ao manter o coração fechado “a Cristo, que, no pobre, continua a bater à porta”.

Francisco sustenta que estas pessoas são “escravas” do pecado que as leva a utilizar riqueza e poder “não para servir Deus e os outros, mas para sufocar em si mesmo a consciência profunda de ser nada mais do que um pobre mendigo”.

“A Quaresma deste Ano Jubilar é um tempo favorável para todos poderem, finalmente, sair da própria alienação existencial”, refere o Santo Padre.

A mensagem coloca a celebração da Quaresma de 2016 no quadro do ano santo extraordinário, o Jubileu da Misericórdia, que o Papa considera um tempo favorável para que todos possam “sair da própria alienação existencial, graças à escuta da Palavra e às obras de misericórdia”.

Nesse sentido, evoca aquilo que a tradição da Igreja chama as obras de misericórdia corporal e espiritual.

“Estas recordam-nos que a nossa fé se traduz em atos concretos e quotidianos, destinados a ajudar o nosso próximo no corpo e no espírito e sobre os quais havemos de ser julgados: alimentá-lo, visitá-lo, confortá-lo, educá-lo”, precisa.

Francisco recorda em particular “o irmão ou a irmã em Cristo que sofre por causa da sua fé” e refere que no tempo da Quaresma vai enviar os “Missionários da Misericórdia” a fim de “serem, para todos, um sinal concreto da proximidade e do perdão de Deus”.

A mensagem tem como data a festa litúrgica de São Francisco de Assis (4 de outubro de 2015).

A Quaresma que se inicia com a celebração de Cinzas (10 de fevereiro, em 2016), é um período de 40 dias, excetuando os domingos, marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, que serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário cristão.

 

 

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