Abstenção compreensível mas terrível

Por Renato Moura

Leu-se que a campanha “Saiba onde votar”, a propósito das eleições para a Presidência da República, duraria 14 dias e custaria mais de 200 mil euros, só para os eleitores saberem como descobrir o local onde são esperados a votar.

Certamente pretende-se combater a abstenção eleitoral, que atingiu níveis percentuais muito preocupantes: para a Presidência da República em 2011 foi de 53,5%, quando em 2006 fora de 38,5%, mas em 1980 apenas de 15,8%; para a Assembleia da República em 2015 foi de 44,1%, em 2011 fora de 41,9%, sendo que em 1999 de 39% e em 1980 apenas de 15,2%.

Após cada eleição estamos fartos de ouvir os políticos atribuir o elevado grau de abstenção à desactualização dos cadernos eleitorais, mas o problema continua por resolver! Na realidade todos sabem que a abstenção tem raízes profundas e sobretudo se deve à desmotivação dos eleitores, claramente expressa em público, cada vez por mais gente.

O facto de os políticos prometerem algumas coisas enquanto candidatos e depois de eleitos frequentemente fazerem o seu oposto, leva a que muitos concluam que não valeu a pena votar.

Todavia a justa indignação dos eleitores, perante o incumprimento, jamais pode ser a abstenção, mas a veemente atitude cívica de indignação e protesto perante quem não cumpre, a luta aguerrida pela execução do prometido e a penalização nas urnas na eleição seguinte.

Estamos chamados a votar, a 24 deste mês. Muitos candidatos, pouco conteúdo! Há os que são claramente ligados a um partido, mas ainda assim propalam independência ou juram distanciamento. Há os que claramente não receiam afirmar-se de esquerda, mas também há quem se diga de todos. Em campanha há quem deseje que o Presidente da República seja um político e há quem defenda que o melhor é alguém independente que possa ser um real árbitro, como independente é a esmagadora maioria dos eleitores.

Se é compreensível a razão que leva à abstenção, é todavia terrível o resultado: poucos escolhem em nome de todos.

Há que ir votar, nesta eleição que sendo pessoal não deveria ser partidária. Interpretando a genuinidade ou a conveniência dos apoios. Tentando perceber como serão depois tendo em conta o seu passado, descodificando o que disseram os candidatos e aquilo que não quiseram dizer. Diferenciando programa de estratégia. Tentando destrinçar as propostas para o bem comum, da ânsia de ser o maior na hierarquia do Estado. Comparando com os presidentes do passado, para perceber como se apresentaram, donde vieram e quais foram os melhores.

 

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