As eleições são um momento importante de intervenção cívica. A actividade política é a arte nobre de bem servir a comunidade.
ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS
1. Ao aproximarem-se as eleições autárquicas, sinto a obrigação de chamar a atenção dos católicos para o dever de votar. As eleições são um momento importante de intervenção cívica, a que não podemos faltar sem motivo sério.
Sei que se difunde alguma desilusão em relação aos políticos. Como em todas as actividades, há gente boa e menos boa. Mas, em si, a actividade política, na bela expressão de Paulo VI, é a “arte nobre” de bem servir a comunidade.
Trata-se de escolher as pessoas mais capazes para tão nobre missão. As eleições são o momento próprio para essa escolha. Todo o católico consciente e coerente com a própria fé procura ser um cidadão interveniente, participando nos momentos decisivos da vida democrática, como são as eleições.
Bem sabemos que não há democracia sem partidos. E os partidos não são todos iguais. É preciso saber escolher, segundo as próprias convicções, tendo presente os princípios da Doutrina Social da Igreja. «Nenhum partido corrresponde integralmente às exigências da fé». Os católicos devem basear a sua escolha em «pressupostos críticos», ditados pelo Evangelho e não apenas em «motivos ideológicos» (D. Manuel, Bispo Auxiliar de Braga).
2. Há um conjunto de valores que devem inspirar a escolha dos católicos, tais como: «verdade, liberdade, justiça e amor/caridade» (João XXIII). Como muito bem assinala D. Manuel, o magistério actual da Igreja acrescentou mais duas séries de valores, hoje fortemente ameaçados: defesa da vida humana em todas as suas fases e protecção da família heterosexual.
São valores, que, fiéis ao Evangelho de Jesus, temos de defender e promover. Evidentemente, nas eleições autárquicas, a escolha é mais de pessoas, do que propriamente de ideologias. Pela lógica da proximidade e do conhecimento directo, mais facilmente se podem escolher as pessoas que consideramos sérias e capazes de promoverem o bem-comum, que é, por definição, o bem de todos.
3. Assim, o primeiro critério na escolha de uma pessoa, para colocar à frente de uma autarquia, é que ponha claramente o bem-comum acima dos interesses pessoais e de grupo.
O segundo critério é que seja uma pessoa audaz e virada para o futuro. Hoje, não se pode ficar na rotina do que sempre foi. O momento presente exige inovação, novas atitudes e a coragem da mudança.
Toda a crise é tempo favorável para realizar as miudanças, que se impõem. Só assim é que se abre caminho para o futuro. Quando tudo corre bem, não há lugar para a inovação. As dificuldades é que aguçam o engenho, para inventar novas respostas aos problemas.
Como afirma uma famosa socióloga, os sinais mais desfavoráveis da crise são as circunstâncias favoráveis para que surja um mundo novo: «a fragilidade do modelo dominante, posta em destaque pelas múltiplas crises, que se sucedem e acumulam, é a fresta, por onde o inesperado pode entrar» (Elena Lasida, O sentido do outro: A crise, uma oportunidade para reinventar laços, Paulinas, 2013, p. 219).
+ António, Bipo de Angra
Angra, 2 de Setembro de 2013.