A VERDADE DO NATAL

Mensagem de D. António Sousa Braga.

É Natal! Faço meu o apelo evangélico: «Erguei-vos e levantai a cabeça: está próxima a vossa libertação» (Lc 21, 28). Apesar de tudo o que acontece na vida e na história, não estamos num beco sem saída. Temos um Salvador: Caminho, Verdade e Vida.

1. O Natal é hoje. Assim canta a Igreja: «Hoje nasceu Jesus Cristo. Hoje apareceu o Salvador. Hoje, na terra, cantam os Anjos e alegrem-se os Arcanjos. Hoje, exultam de alegria os justos, dizendo: Glória a Deus nas alturas» (Antífona das Vésperas de Natal).

Para além de todas as manifestações exteriores de festa, não podemos perder de vista a verdade do Natal, que dá sentido a todo o resto. No Natal de Jesus, a Igreja celebra a presença salvadora de Deus na história humana, através da Incarnação do Filho.

Ora, toda a celebração cristã é «memorial», que alcança o ser humano no «hoje» da sua existência. Propriamente falando, não existe, dum lado, a história dos homens, laica e profana e, paralelamente, a história da salvação. O que realmente acontece, com o Natal de Jesus, é que a salvação de Deus se incarna na história humana. Mesmo com todas as suas contradições e contrariedades. Está é a verdade do Natal.

2. As narrações evangélicas sobre o Natal de Jesus dão-nos o seu enquadramento histórico. Ocupada pelos Romanos, a Palestina estava, na altura, sob o poder despótico de Tibério César; Procurador era Pôncio Pilatos, tristemente famoso pela sua crueldade; detentores do poder local eram os Tetrarcas Herodes e Filipe, personagens medíocres; de baixo perfil eram também os chefes religiosos, Anás e Caifás.

O cenário político não era, pois, nada animador. Num contexto histórico destes, não seria de esperar nada de bom para o futuro. O facto, porém, é que no meio de trevas tão densas, se acende uma luz de esperança. Com o Natal de Jesus, põe-se em marcha uma história nova; é inaugurado o Reino de Deus: Reino de Justiça, de Amor e de Paz.

Esta é a verdade do Natal. É possível sonhar e esperar; acreditar no futuro; empenhar-se, com esperança certa de alcançar o que se espera. Apesar e mesmo no meio de todas as crises, que podem ser oportunidades de crescimento e de progresso. É desejável e possível outro paradigma de convivência pacífica entre as pessoas e os povos.

O Natal é hoje. Quanto mais funda for a noite, mais próxima está a aurora. «A noite vai adiantada e o dia está próximo – adverte S. Paulo. Abandonemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz» (Rom 13, 12). É tempo de vigília e de discernimento, de acção e de esperança activa.

A verdade do Natal cristão dá-nos um horizonte de esperança, não só escatológica, isto é, para os últimos tempos, mas também histórico-política, no hoje que nos toca viver. O que implica empenhamento e intervenção na sociedade, contribuindo para o bem comum, com os valores evangélicos.

3. A questão de fundo do Natal não é a ausência de símbolos religiosos nos espaços públicos. Isso é apenas um sintoma, que desafia os cristãos a darem o seu contributo específico para um mundo melhor, mais justo e fraterno, mostrando-se activos e intervenientes, qual fermento que leveda a massa.

Não basta apenas o progresso técnico, para garantir o desenvolvimento dos homens todos e de todo o homem. «Só através da caridade, iluminada pela luz da razão e da fé, é possível alcançar objectivos de desenvolvimento dotados de uma valência mais humana e humanizadora» – adverte o Papa, na sua recente Encíclica Social, Caritas in Veritate (nº 9). «A cidade do homem não se move apenas por relações feitas de direitos e de deveres – continua o Papa – mas antes e, sobretudo, por relações de gratuidade, misericórdia e comunhão» (Id, Ibid., nº 6).

O Natal é hoje. Não são expressões colaterais do Natal o ambiente de festa que se cria, a atmosfera de ternura e de boa vontade que se respira, as reuniões familiares e as confraternizações, a partilha e as campanhas de solidariedade. Isso é o Natal em acto. Prolongando as celebrações litúrgicas, que actualizam os valores do Natal cristão, para serem vividos e testemunhados. Aqui e agora. Sempre.

É dessa vivência e testemunho, que o mundo precisa. Para ser Natal. Hoje.

Bom Natal!

+ António, Bispo de Angra

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