Nota Pastoral do Bispo de Angra para o Pentecostes.
Já há vários anos que celebramos o Pentecostes também como a Festa dos Povos, tendo presente os inúmeros trabalhadores estrangeiros, que vivem entre nós, contribuindo para o desenvolvimento da nossa terra. É que Pentecostes é o contrário da Torre de Babel. No dia de Pentecostes, «todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes inspirava. Moravam em Jerusalém nessa altura judeus devotos vindos de todas as nações do mundo… Ficaram todos admirados, porque cada um deles os ouvira na língua do seu país» (Act 2, 4-6).
Em Pentecostes, a confusão e a dispersão de Babel deram lugar à comum linguagem do amor, que a presença e acção do Espírito Santo tornam possível. «O que se está a passar – explica Pedro – é aquilo que está escrito no livro do profeta Joel: “Deus diz: Nos últimos dias, espalharei o Meu Espírito sobre toda a humanidade”…» (Act 2, 16-17).
E haverá um só rebanho e um só pastor, como preconizou Jesus. Ele veio ao mundo, como Bom Pastor, para reunir o que estava disperso. Envia o Seu Espírito, para tornar possível a verdadeira fraternidade, na justiça e na solidariedade.
É a “utopia cristã” do “Império do Espírito Santo”, expressa de forma tão sugestiva nas festas populares açorianas em honra do Divino. Na verdade, é o Espírito Santo que torna possível a fraternidade universal. Não há mudança das estruturas, sem a mudança das pessoas. O Espírito Santo é que transforma os nossos corações, para vermos em cada ser humano um irmão.
Lembra-te que também foste estrangeiro na terra do Egipto: «Se um estrangeiro vier residir na tua terra, não o oprimirás…» – lê-se no AT (Lev 19, 34). O mesmo poderíamos dizer nós, evocando a diáspora migratória. Efectivamente, por cada imigrante, a residir no País, há dez portugueses imigrantes, nesse mundo de Deus. Muito mais nós açorianos temos de estar preparados e mentalizados a acolher o estrangeiro.
Mas não basta acolher. É preciso integrar. Isso depende dos imigrantes, mas também de quem os acolhe. Urge cultivar uma mentalidade positiva sobre as imigrações. O fenómeno migratório sempre fez parte da existência humana. Não deve ser visto como ameaça, mas como oportunidade de progresso material e de enriquecimento cultural para todas as partes envolvidas.
Evidentemente, a situação actual de crise agrava a problemática das migrações e cria novos desafios. O que implica um duro combate ao individualismo e à atitude do «salve-se quem puder». E exige um ambiente de diálogo sadio e de leal cooperação entre as nações de origem e de destino das migrações.
Estamos no limiar de um novo paradigma de relacionamento e de convivência entre os povos e nações. Deixando-nos conduzir pelo Espírito Santo, é possível construir a «civilização do amor», ultrapassando o «choque de civilizações», através de um diálogo aberto e construtivo. Dialogar não significa abdicar da própria identidade. Implica abrir-se ao outro, acolher o diferente, reconhecer a riqueza da diversidade. É isso mesmo o «Império do Espírito Santo».
+ António, Bispo de Angra