Imprensa ligada à igreja teve um papel “determinante” em “projetar a voz das periferias”

Aliança entre imprensa e igreja “marcou” a história dos Açores, defende investigadora da Universidade dos Açores

Dar voz às periferias e lutar por elas “foi sempre um dos grandes desígnios da imprensa regional”, em especial a de inspiração cristã, que procurou informar e formar os açorianos a partir dos princípios do Evangelho, e por isso “a sua importância não está em causa”, mas sim os meios para garantir a sua sobrevivência, disse esta manhã a primeira oradora das Jornadas Diocesanas de Comunicação Social, que estão a decorrer em Vila Franca do Campo.

“A imprensa local e regional é um elemento essencial de afirmação de periferias, de combates ao centralismo e à globalização”, disse Susana Serpa Silva

A historiadora e investigadora da Universidade dos Açores, fez o enquadramento histórico da imprensa nos Açores, sem perder de vista o contexto nacional e internacional, sublinhando que na segunda metade do Século XIX, “os Açores acompanharam” a tendência nacional com um considerável incremento de publicações, que no que respeita à imprensa religiosa atinge os 30 títulos, espalhados por todas as ilhas, com especial destaque para a Terceira e para São Miguel, deixando de fora o Corvo.

A professora universitária ressalvou que todas estas publicações tinham um “pendor formativo” e no caso da imprensa cristã, dirigida por sacerdotes, “destinava-se à doutrinação, à cristianização das famílias procurando”, já nessa altura ir ao encontro das pessoas, num contexto marcado por uma grande religiosidade.

“A aliança entre a igreja e a imprensa foi pois uma realidade incontornável, hoje mais esbatida, mas no passado com uma força considerável, originária de projetos assaz duradouros” destacou Susana Serpa Silva apesar dos problemas financeiros que nessa altura já se colocavam, concretamente “a má qualidade do papel, o reduzido número de habitantes ou as dificuldades de comunicação e transportes”.

Susana Serpa Silva disse, no entanto, que nesta altura a imprensa “não era vista como uma industria” mas como “uma missão” e o jornalismo era visto como “um fator de civismo” tendo “desenvolvido um verdadeiro apostolado” com um poder “ que não passava despercebido”. De resto, em São Miguel chegou a ser criado o Grémio da Imprensa.

Depois de passar em revista a história da imprensa e o papel que ela desempenhou na afirmação das ilhas, “sobretudo o ideário político a que esteve sempre associado o florescimento da imprensa”, Susana Serpa Silva centrou-se no Jornal A Crença, o jornal da paróquia da Matriz de Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel e um dos dois títulos católicos que continuam a publicar-se nos Açores, “apesar das dificuldades”.

O jornal que sempre “se assumiu como pequeno” apresentou-se com uma “dupla missão instruir e informar”, desempenhando “um papel pedagógico para diferentes públicos”, referiu ainda a investigadora, ressalvando que A Crença sendo “uma espécie de boletim paroquial”, “nunca perdeu a noção do mundo” abrindo as suas páginas às noticias do mundo, do país e da região.

As Jornadas diocesanas de Comunicação Social, organizadas em conjunto pela Pastoral das Comunicações Sociais da Igreja e a ouvidoria de Vila Franca do Campo, no âmbito do centenário A Crença, prosseguem com dois painéis centrados no presente e no futuro da comunicação social de inspiração cristã na diocese de Angra.

As jornadas terminam com uma conferência do Diretor da Agência Ecclesia, Paulo Rocha.

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