Quatro sacerdotes e um religioso vivem no Centro Missionário dos Sacerdotes do Coração de Jesus, a partir do qual desenvolvem várias formas de apostolado
A Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus é um dos três institutos religiosos masculinos com presença permanente na Diocese de Angra há mais de três décadas, para além de ser uma das quatro dioceses portuguesas que tem um Bispo dehoniano, D. António de Sousa Braga.
A comunidade, composta atualmente por quatro sacerdotes e um religioso (os Padres Pedo Coutinho, Paulo Vieira, David Quintal e Eduardo Sousa e o Ir. Vitor Teixeira), lidera, de resto uma das ouvidorias da ilha de São Miguel, a Lagoa, assegurando uma espécie de gestão in solidum de duas das paróquias da ouvidoria- Livramento (com 4 mil habitantes) e Cabouco (com 2 mil habitantes), para além da assistência religiosa aos institutos femininos de vida consagrada, presentes na ilha.
Mas a missão desta comunidade, como de todas as outras, espalhadas por mais seis dioceses portuguesas (Lisboa, Porto, Aveiro, Coimbra, Algarve e Funchal) vai muito para além desse apostolado paroquial.
“Somos um centro missionário para além de um póo dinamizador da evangelização e, por isso, o nosso trabalho não se esgota na paróquia, que asseguramos de acordo com o nosso carisma, muito virado para a espiritualidade do Sagrado Coração de Jesus, e para as questões sociais”, disse ao Sítio Igreja Açores o responsável pela Comunidade e ouvidor da Lagoa, Pe. Pedro Coutinho.
Natural de Vila Real de Trás os Montes, o sacerdote está nos Açores depois de ter passado entre outros lugares, por missões em Madagáscar e na India.
A vinda para os Açores é mais uma missão. E se olharmos para os desafios que as Comunidades Dehonianas têm, o trabalho não é de pouca monta.
“Este centro Missionário, hoje se calhar não tem o mesmo dinamismo mas a verdade é que fomos durante muito tempo um pólo dinamizador da ilha de São Miguel” diz o sacerdote, lembrando que era aqui que gravitava o dinamismo dos movimentos eclesiais, que na ausência de outro espaço diocesano na ilha, aqui se reuniam e para aqui faziam convergir todas as suas atividades.
“A juventude dehoniana, que já teve uma expressão muito significativa na ilha; a infância missionária; o acolhimento a retiros e actividades dos movimentos eclesiais ou o acompanhamento de jovens que aqui eram seguidos no seu discernimento vocacional, numa espécie de pré seminário, eram atividades que davam um enorme dinamismo a esta casa”, ressalva o Pe Pedro Coutinho.
Aliás foi desta casa que saíu o primeiro sacerdote açoriano da congregação ordenado neste século, o jovem Pe Gil Silva, natural da Ribeira Grande, atualmente no Porto.
Hoje, o Centro Missionário, como ainda é designado entre os locais regista uma menor actividade mas nem por isso perde a sua razão de ser.
“A nossa missão continua a ser igual; as congregações não se impõem a ninguém e estamos onde a igreja local precisa de nós”, sublinha ainda.
“O nosso primeiro trabalho é sermos comunidade neste local; ser religiosos e viver em comunidade. Este é o nosso primeiro testemunho e é um serviço que se presta à igreja local” diz por seu lado o Pe David Quintal, madeirense, recém chegado à diocese de Angra.
Apesar da pastoral paroquial ser a mais visível, a verdade é que nós temos também a pastoral de espiritualidade, a juvenil e a missionária e é nestas três vertentes que procuramos fazer o trabalho e qualquer um destes apostolados é importante”, sublinha ainda o sacerdote recordando que estas funções “não dependem de um bispo mas da identidade da própria vida consagrada”.
“Nós não estamos aqui para suprir a ausência de padres ; estamos porque é esta a nossa missão”, conclui, no que é secundado pelo responsável Pe Pedro Coutinho que lembra que a diocese de Angra “nem tem falta de padres”.
“No contexto nacional é a diocese que, comparativamente, tem mais sacerdotes e onde eles são mais novos” o que permite dizer, ainda, que “vivemos numa certa reserva de cristandade” desde logo porque “tudo gravita em torno da igreja”.
“É certo que a religiosidade popular é muito forte, mas a diocese é uma referência; os eventos religiosos são incontornáveis: o Santo Cristo; o Espirito Santo, as festas de paróquia… estamos diante de dados objetivos: muito do que se faz nos Açores faz-se a partir da igreja”, diz ainda o ouvidor Pe Pedro Coutinho.
“E há que saber viver com isso, sobretudo agora, que os Açores se abriram ao turismo, também os Açores religiosos são objeto da curiosidade dos turistas”, alerta o sacerdote que considera o momento atual da diocese como “uma fonte de esperança”.
“A igreja é sempre uma nascente cheia de esperança; aquela coisa com penas que poisa nos muros da nossa existência e que canta uma melodia sem palavras que não para. Se olharmos para o que se aproxima é esperança, renovamento e, por isso, temos de ver que há oportunidades que se criam”, afirma lembrando que os tempos de mudança “são sempre oportunidades para coisas novas acontecerem”, diz.
“Podemos falar no envelhecimento da Igreja, dos movimentos, dos leigos que são poucos, mas se olharmos para a história verificamos que sempre foi assim mas também percebemos que, mesmo os ateus, beberam a água do cristianismo”, afirma o Pe Pedro Coutinho.
“O sal do Evangelho, que tempera a vida, nem sempre se consegue saborear rapidamente; temos de ser pacientes”, frisa.
Também na diocese “há que dar tempo ao tempo, sempre a trabalhar”, naturalmente “coordenando com o bispo diocesano” e procurando “cumprir a nossa missão evangelizadora. E isso não depende deste ou daquele Bispo; depende do nosso carisma”.
A Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus foi fundada em 1878 em S.Quintino, pelo Padre João Leão Dehon, que “recebeu a graça e a missão de enriquecer a Igreja com um Instituto religioso apostólico que vivesse da sua inspiração evangélica”, lê-se no sítio oficial da Congregação na Internet.
“É chamada a fazer frutificar esse carisma, segundo as exigências da Igreja e do mundo. Segundo a experiência de fé do Padre Dehon, este Instituto tem a sua origem na experiência de fé do Padre Dehon” acrescenta ainda sublinhando que “ tal experiência é a mesma que S. Paulo assim exprimiu: A vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou e Se entregou por mim” (Gal 2,20).