Nos 481 anos da diocese

Pelo Pe Agostinho Lima*

A Diocese de Angra vai comemorar 481 anos de existência. E, no âmbito da celebração deste aniversário, foi-me pedida uma reflexão, que aceitei com muito gosto.

UMA DIOCESE DIFERENTE…

A Diocese de Angra é uma diocese diferente. Constituída por nove ilhas e assinalada por uma descontinuidade territorial, assume-se como uma realidade distinta. A instabilidade climática que caracteriza o arquipélago influencia os seus habitantes. Torna-os mais espontâneos. Mais diretos. Mais autênticos…

Ser diocese em nove ilhas é um repto que exige imaginação a quem é colocado à frente dos destinos de uma região/diocese como a nossa.

OLHANDO UMA HISTÓRIA, AINDA QUE RECENTE…

Algum passado recente, deste passado que ajudou a edificar a nossa diocese, fica marcado pelo episcopado de D. Aurélio Granada Escudeiro. Chegou a esta diocese em 1974. Ano difícil na vida dos portugueses. Um homem duro, como se leu no semanário “Expresso” na sua chegada à nossa diocese.

A sua preocupação foi proporcionar alguma organização a esta diocese. Apostou fortemente na reforma da liturgia. Diversos encontros de pastoral litúrgica tiveram lugar nesta diocese. Outrossim, foi o apoio conseguido para a deslocação de muitos diocesanos ao Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica.

As suas visitas pastorais de enorme exigência, realizadas de cinco em cinco anos, regularmente, tiveram o mérito de conseguir alguma unanimidade na diocese.

A visita da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima aos Açores constituiu um ponto alto na vida deste bispo albicastrense, a que se juntou o seu grande êxito: a vinda de João Paulo II à Terceira e a Ponta Delgada.

A VIVÊNCIA DA PROXIMIDADE NA SIMPLICIDADE.

Um bispo açoriano era, de há muito, o anseio de muitos dos nascidos nestas ilhas. E o desejo concretizou-se com um filho de Santa Maria.

Para se fazer a história de alguém é aconselhável deixar pessoas e factos em repouso durante anos para, depois, se conseguir um juízo mais fidedigno dessas pessoas e factos em análise.

D. António caracterizou a sua ação por uma proximidade e por uma simplicidade inegáveis. Um bispo a conduzir a sua viatura, a ir comprar o jornal, a prestar-se a um diálogo sincero com os meios de comunicação social não era muito comum num bispo destas ilhas. Foi uma forma de servir nem sempre muito bem compreendida. O que não admira nos tempos que correm. A reação manifestada por alguns açorianos resultante da ida do resplendor do Santo Cristo, durante mais de um mês, para exposição Splendor et Gloria, no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, é a prova insofismável do que se acima se afirma.

QUE FUTURO?!

O futuro deverá ser construído com muita serenidade. Olhando para traz, para se perceber o que há a fazer para a frente. A nível de catequese terá de haver muito esforço para otimizá-la. Descobrir gente disponível e, sobretudo, competente, que testemunhe a sua fé sem receios e complexos. Sensibilizar os alunos para voltar a haver maior participação nas aulas de Educação Moral e Religiosa Católica. Evangelizar a religiosidade popular e não se contentar com o que existe. Revitalizar os conselhos pastorais e implementá-los onde ainda não existam. Independentemente do que vier a ser decidido acerca do Seminário de Angra, é imperioso que os candidatos ao sacerdócio tenham experiências distintas, quer a nível científico, em contato com estabelecimentos de ensino de inegável valor, quer a nível pastoral, em contato com outras realidades, em dioceses com outra expressão. Uma formação em contexto de trabalho.

Orientações diocesanas muito simples. Indispensáveis, mas que possam ser adaptadas em cada uma das ouvidorias/paróquias. E, sobretudo, apoiar que tem maior dificuldade, nunca dispensando a respetiva avaliação.

Que a citação conciliar que encima este texto norteie a ação da nossa diocese que se prepara para receber um novo bispo.

*Ouvidor Eclesiástico do Nordeste. O Pe Agostinho Lima é o ouvidor há mais tempo em funções, na dicoese de Angra

 

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