Obras lembram tradição centrada na figura do Menino Jesus, defende teólogo e compositor Alfredo Teixeira.
O investigador e compositor Alfredo Teixeira sugere músicas de Fernando Lopes Graça para ouvir nesta época festiva porque “são obras que leem de uma maneira muito interessante as tradições corais em torno do Natal”.
“As duas cantatas por exemplo são cantatas construídas a partir de cantos da Natividade tradicionais portugueses que ele (Lopes Graça) harmoniza para coro à capela construindo uma sequência muito interessante que eu recomendaria a todas as pessoas”, revela o professor da Universidade Católica Portuguesa, em declarações à Agência ECCLESIA.
Ouvir pela primeira vez ou apenas revisitar as obras de Fernando Lopes Graça “vale muito a pena porque elas de fato são obras que leem de uma maneira muito interessante as tradições corais em torno do Natal, tradições nas quais o Natal é um Natal muito centrado na figura do menino”, acrescenta.
Além da atividade profissional enquanto professor universitário e investigador na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, Alfredo Teixeira é também compositor, tendo vencido último dia 17 o III prémio internacional de composição Fernando Lopes Graça, com a adaptação para coro infantil de um poema de João de Deus ‘O Menino Jesus numa estória aos quadradinhos’.
“Temos muitas canções que são canções de embalar ou são canções de louvor ao menino e muito centradas nesta ideia de uma miniaturização da história sagrada”, revela Alfredo Teixeira.
Fernando Lopes Graça (1906 – 1994) é considerado como um dos maiores compositores do século XX em Portugal e criou quatro obras corais natalícias (as duas “Cantatas do Natal”, os “Três Cantos dos Reis” e o “Presente de Natal para as Crianças”).
As “Cantatas de Natal”, escritas entre o final dos anos 40 e inícios da década de 60 do século XX, consistem em conjuntos de harmonizações de melodias populares portuguesas, sendo que inicialmente foram intituladas pelo compositor Lopes Graça com o nome “Cantos Tradicionais Portugueses da Natividade”.
“A cultura popular permaneceu muito interessada nesta dimensão do Natal, o Natal enquanto um Deus emanado, um Deus que se aproxima e que como que habita a nossa escala humana”, explica o antropólogo Alfredo Teixeira.
“O Natal ibérico e em particular o Natal português é de facto um Natal que representa um Deus extraordinariamente próximo do nosso quotidiano”, fazendo desta altura do ano “um acontecimento para além da narrativa cristã, mas também a partir dela se tornou um acontecimento fundamental na nossa cultura”.
Num tempo de rebuliço e muitas distrações, o professor universitário sugere que exista um momento para apreciar a música, podendo ser esse um ponto de partida para que todos se reúnam “em torno do Natal partindo de motivações e significações diferentes”.
“O Natal pode convocar num espírito comum independentemente de outras fronteiras que possam existir entre as pessoas”, acrescenta Alfredo Teixeira.