Livro pretende ser um contributo para uma “correção fraterna”
A proposta já vem de outros livros mas nesta última obra “Crer. Mas em quê?” Cunha de Oliveira insiste numa visão de Deus “numa tentativa de abstracção da antropomorfização”, explicando aprofundadamente “a diferença entre crer e acreditar (o crer gera a Fé e o acreditar gera a crença)”, levando “às mais variadas interrogações e à legitimidade, ou não, de divinizar o humano ou de humanizar o Divino” disse o jornalista Santos Narciso, na sessão de Apresentação do novo livro do teólogo, que decorreu este sábado em Ponta Delgada, depois de ter sido apresentado no passado dia 9 em Angra.
“O Deus que Cunha de Oliveira nos propõe não é o Deus Cósmico de Teilhard Chardin que depois de tantos anos, o Papa Ratzinger reabilitou” precisou o jornalista, amigo pessoal e ex aluno do autor, no Seminário Episcopal de Angra, sublinhando que neste livro tal como em muitos outros, o autor apresenta “propostas de reflexão” que “são pratos suculentos de História, Teologia, Exegese e Hermenêutica, servidos pela paixão de um Homem que passou a vida a ensinar e a fazer Pensamento, pouco importado com status, convenções ou tradições. Nele é a inteligência ao serviço da convicção!”.
Santos Narciso, disse aliás, que em todos os livros, mas particularmente neste, o autor procura sempre colocar a fé “na dimensão do pensamento, da ciência e da exegese”.
“Podemos não concordar com algumas das conclusões a que Cunha de Oliveira chega, mas isto não belisca nada o gosto pela obra e pelo trabalho apresentados, porque um dos grandes méritos do autor é, precisamente, esconjurar dogmatismos e apelar à inteligência”, disse ainda recordando que este trabalho nunca “é feito à margem ou contra a própria Igreja”.
O livro “Crer. Mas em quê?” é uma edição do Instituto Açoriano de Cultura, do qual o téologo terceirense é um dos co fundadores, ainda vivos, e a partir do qual emergiram as célebres Semanas de Estudo, “decisivas” para pensar os Açores de hoje.
O livro vem na linha de outros publicados recentemente pelo autor (A morte do justo; Jesus Profeta do Islão; Jsus de Nazaré e as mulheres, entre outros) onde reflete sobre a história “do Senhor Jesus” e sobre a fé nos dias de hoje.
“Escrevo para que os meus netos possam entender melhor as coisas” disse Cunha de Oliveira, com a simplicidade dos seus 91 anos, mas com a enorme vocação para lançar e gerar debate.
“As minhas análises não são conclusões; são propostas de reflexão e como eu gostava que elas provocassem debate”, disse o autor lamentando, que hoje, “vivemos num mundo de imagens e de sensações e pouco de raciocinio e discussão”.
“A igreja passou a ser uma instituição e menos uma comunidade de fé. Os católicos, hoje, vivem no dominio das sensações. Somos devotos de imagens”, adiantou ainda.
Nas palavras que proferiu durante a apresentação do livro, numa cerimónia promovida em parceria pelos Institutos Açoriano de Cultural e Cultural de Ponta Delgada, o teólogo pronunciou-se ainda sobre o atual momento da Igreja diocesana, pedindo ao novo prelado coadjutor nomeado, D. João Lavrador, que faça “um inquérito, um estudo” sobre a prática dominical nos Açores.
“Quem está lá, quais as profissões, que escolaridade possue… era muito importante conhecer o perfil dos nossos católicos, dos que vão à missa e dos que estão nos movimentos pois julgo que ficariamos muito surpreendidos” diz Cunha de Oliveira afirmando que “está à vista que quem decide, quem influencia hoje não é crente e muito menos se rege pelos principios cristãos ou orienta as suas decisões a favor do bem comum”.
“Temos de procurar fazer uma correção fraterna para voltarmos ao caminho da Igreja do Senhor Jesus”, concluiu, depois de ter também manifestado o apoio à ordenação das mulheres.
“Se não fossem as mulheres não teríamos tido cristianismo e se não forem elas não o teremos por muito mais tempo” disse o teólogo que defendeu “um lugar para elas a par dos homens, não nos lugares administrativos mas no acesso ao ministério”.
“Temos falta de padres; alguns não são os mais capazes; abra-se o sacerdócio às mulheres. Jesus só pode fazer a vida que fez porque as mulheres o permitiram sustentando-o”, disse Cunha de Oliveira.
O próximo livro já está a ser elaborado e chama-se “A ressurreição da Carne”.