Sacerdote participou em conferência da FLAD
A “arte da boa vontade humana” aplicada à ciência deve ser o principal regulador do desenvolvimento cientifico defendeu o Pe Júlio Rocha na Conferência “Ciência e Sociedade: a bioética em debate” que decorreu esta quinta feira em Ponta Delgada por iniciativa da Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento, com a coordenação cientifica da professora do Seminário Episcopal de Angra, Marta Barcelos.
Defensor de que a “fé e a razão não se excluem”, o Prefeito de Estudos do Seminário de Angra, doutor em teologia moral, sublinhou a ideia de que a pessoa humana “é um mistério que vai para além da soma dos seus órgãos” pelo que “sempre que a ciência avança na explicação do ser humano, descobre novas áreas para explorar” num processo que diz “não ter fim”. E é “importante” reconhecer essa limitação, conclui o Pe Júlio Rocha que é também presidente da Comissão Diocesana Justiça e Paz.
A relação entre a ética e a ciência foi o principal ingrediente da conferência organizada pela FLAD em Ponta Delgada, para assinalar os 30 anos de vida da Fundação criada ao abrigo do acordo bilateral entre Portugal e os Estados Unidos, onde está enquadrada a utilização da Base das Lajes, pelos norte americanos, sob o signo dos 3 D´s de desenvolvimento da ciência, da economia e da política, a que o Presidente Vasco Rato acrescentou outros 3 ligados à Dimensão, Diálogo e Descentralização.
Ontem a sessão começou com uma conversa entre os dois últimos prémios Pessoa, Maria Manuel Mota e Henrique Leitão, gravada nas instalações da FLAD em Lisboa, onde ambos sublinharam essa novidade da ciência hoje “estar em todo o lado”, “influenciando quase todos os aspetos da vida do dia a dia”. A importância do conhecimento cientifico, a sua democratização e a potenciação do capital humano para o desenvolvimento da ciência foram outros dos aspetos frisados.
Marta Mendonça, da Universidade Nova de Lisboa, outra das oradoras centrou a sua intervenção em torno do debate filosófico à volta da artificialização da natureza e melhoramento do corpo humano, enquanto que André Dias pereira, jurista e professor de Direito, em Coimbra, sublinhou a importância da ética em questões como ensaios clínicos ou administração de medicamentos experimentais.
O segundo painel desta conferência contou, entre outros, com a participação da professora catedrática Maria do Céu Patrão Neves que defendeu a necessidade de “um consenso político” para acabar com “o turismo bioético”.
Esta foi, de resto, a designação encontrada pela Consultora do Presidente da República para a ética da vida para designar o que acontece em todo o mundo, concretamente na dualidade de critérios de aceitação da maternidade de substituição, por exemplo.
Patrão Neves sublinhou a importância deste “consenso” para criar uma bioética global que se traduza num “biodireito” que se imponha, também, a nível global.
A especialista em ética e bioética lembrou o poder que as tecnologias têm de gerar desigualdades sociais e entre países no acesso à inovação cientifica, sobretudo na área da saúde, comprometendo um desenvolvimento social equilibrado. Por isso, o tal consenso político, diz deve ser alargado a um conjunto de áreas onde as questões éticas se colocam com pertinência e atualidade como o uso de embriões para investigação cientifica, melhoramento genético e clonagem.
Recorde-se que Maria do Céu Patrão Neves foi uma das vozes que se ouviram no Parlamento Europeu em defesa da petição “Um de Nós”, uma iniciativa da sociedade civil, à qual a diocese de Angra se juntou, e que reuniu cidadãos de 19 países, que pediram à União Europeia que adotasse medidas que proíbissem o financiamento de atividades que implicassem a destruição de embriões humanos, em particular nas áreas da investigação, da cooperação e da saúde pública.
Esta foi a primeira iniciativa europeia de cidadãos a ultrapassar os requisitos estabelecidos pela Comissão Europeia e contou com o apoio da Conferência Episcopal Portuguesa.