Jornal assinala 100 anos no dia 19 de dezembro com conferência do Pe Tolentino Mendonça
O Jornal vilafranquense A Crença inaugura no próximo sábado uma exposição alusiva à sua história de vida, que completa no próximo dia 19 de dezembro, cem anos.
“1915- A Crença-2015”, organizada por uma equipa coordenada por Andrè Laranjinha, tem dois núcleos um na Igreja do Concento de Santo André e outro no Centro Municipal de Formação e Animação Cultura da Vila.
“A Crença teve desde a sua origem um papel importante na identidade social desta vila”, adianta uma nota enviada ao Sítio Igreja Açores, pelos promotores da exposição que sublinham a afetividade (sentimento predominante)- “hoje talvez o maior” – que o jornal desperta junta da comunidade local.
Por isso, esta exposição do centenário procura “devolver a toda a comunidade a consciência explícita da sua importância” de forma a que “todos e em particular os mais responsáveis possam ser estimulados a desencadear um processo” de “reabilitação” do jornal “ajustado à dinâmica contemporânea da comunidade”, para que A Crença possa reaver a importância que foi perdendo ao longo dos anos, como jornal.
“O trabalho- expositivo- (o desenvolvimento dos conteúdos, a seleção dos espaços, a forma de expor, etc.) pauta-se também pela procura de aproximação à comunidade nos seus vários sectores sociais e etários, onde as crianças e jovens terão um lugar privilegiado” dizem os promotores.
A Crença foi criada em 19 de dezembro de 1915, numa altura em que o mundo estava a viver a I Grande Guerra Mundial. E surge nas vésperas de Natal com uma mensagem de Paz.
“Nas primeiras linhas deste boletim (o primeiro), pelas palavras do seu fundador e director – Padre Ernesto Ferreira – lemos o seguinte: A Crença – assim se chama o teu visitante – aparece para te recordar a doutrina suave e santa do Divino Jesus (…) vem repetir-te a palavra simples e encantadora do Evangelho”, refere-se na exposição sublinhando que “este foi o seu princípio, e continua a ser o seu fim – repetir a palavra viva das Escrituras Sagradas fazendo-a ecoar no coração dos seus leitores”.
O contexto da Crença e a sua ligação a Vila Franca do Campo ficam também muito patentes nesta exposição, como de resto queriam inicialmente os seus promotores.
“Não podemos falar de A Crença sem falar necessariamente de Vila Franca do Campo – a história de uma cruza-se com a história da outra”, sublinha a nota enviada pelos produtores ao Sítio Igreja Açores lembrando que “ao longo de 100 anos A Crença acompanhou a história desta Vila, refletindo e registando aquilo que no essencial constitui esta comunidade – quer nos aspetos religiosos (como por exemplo as celebrações do Senhor da Pedra, da Senhora da Paz, de São Pedro Gonçalves, etc.), quer nos aspetos sociais (que, de certa forma, espelham os valores, ideais e modos de estar de uma determinada época), sem nunca perder de vista a relação com algo estrutural: os princípios que orientam uma identidade católica”.
Na exposição há, igualmente uma preocupação de traduzir esse compromisso inicial do jornal, que ao longo dos anos procurou ter um duplo papel: instrutivo e noticioso. Instrutivo da doutrina católica mas também de muitas e variadas áreas de interesse, umas mais culturais (literatura, ciência, poesia, etc.) outras mais populares (ensinamentos agrícolas, higiene no lar, etc.)”.
Acresce uma preocupação de estilo, destacando-se, sobretudo, “ o cuidado com o uso de uma linguagem suficientemente diversificada e abrangente para poder alcançar o leitor mais erudito, mas também o leigo”, sublinham ainda os produtores da exposição.
Por outro lado, “constitui-se também como um importante veículo de informação (sobretudo numa época em que as comunicações eram mais difíceis) do que se passa não apenas nos Açores, mas em Portugal e no estrangeiro – estabelecendo assim a ponte entre a Vila e o Mundo mas também um bom pedaço do que acontece cá dentro”.
Na exposição, que assinala o centenário do jornal, há também uma preocupação em relatar a partir deste aniversário o percurso da própria imprensa escrita, particularmente do ponto de vista tecnológico.
“No início as palavras eram pacientemente compostas letra a letra por pequenos pedaços de chumbo – o processo tipográfico. Mais recentemente deu lugar ao offset – um processo de impressão bastante mais rápido que reflete também a vertigem de uma sociedade sem tempo a perder. Por sua vez, o futuro e as novas tecnologias apontam inevitavelmente para a necessidade de criação de um espaço virtual – espaço esse onde a palavra tende a tornar-se cada vez mais efémera, em detrimento de um culto da imagem cujo consumo é mais imediato (e, também por isso, menos crítico)”, acrescentam.
O desafio lançado pelo próprio jornal no inicio das comemorações, procurando refletir sobre o futuro, nomeadamente o seu papel e o seu alcance num contexto global, é equacionado na exposição que parte mesmo da pergunta: qual o lugar de «A Crença» nos tempos que estão para vir?
A exposição presta ainda uma homenagem aos colaboradores do jornal que ao longo de 100 anos permitiram a sua afirmação evitando o encerramento como aconteceu com alguns títulos seus contemporâneos como A Phenix; o Autonómico ou o Vilafranquense.
Além desta exposição, integrada também nas comemorações do centenário, Vila Franca do campo vai receber no dia 5 de novembro as Jornadas Diocesanas da Comunicação Social, que se realizam na Escola Secundária, para além da conferência de encerramento das comemorações, a 19 de dezembro.