Missa inaugural da assembleia de Bispos apresentou «verdade» e «caridade» como chaves para o debate sobre as famílias
O Papa inaugurou hoje a nova assembleia do Sínodo dos Bispos sobre a família com uma homilia em que apresentou “verdade” e “caridade” como chaves do debate de três semanas.
“Neste contexto social e matrimonial bastante difícil, a Igreja é chamada a viver a sua missão na fidelidade, na verdade e na caridade”, declarou, na Missa a que presidiu na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Francisco desafiou por isso a Igreja a propor “o significado autêntico do casal e da sexualidade humana no projeto de Deus”, num “amor conjugal único e usque ad mortem” (até à morte).
“Paradoxalmente, também o homem de hoje – que muitas vezes ridiculariza este desígnio – continua atraído e fascinado por todo o amor autêntico, por todo o amor sólido, por todo o amor fecundo, por todo o amor fiel e perpétuo”, prosseguiu.
Esta verdade, acrescentou o pontífice argentino, “não se altera segundo as modas passageiras ou as opiniões dominantes”.
“Parece que as sociedades mais avançadas são precisamente aquelas que têm a taxa mais baixa de natalidade e as altas percentagens de abortos, de divórcios, de suicídios e de poluição ambiental e social”, advertiu.
A intervenção multiplicou apelos à defesa do “amor fiel”, da “sacralidade da vida” e da “unidade e indissolubilidade do vínculo conjugal”, citando a este respeito os seus diretos predecessores, São João Paulo II e Bento XVI.
O Papa acrescentou que este compromisso de uma Igreja que “ensina e defende os valores fundamentais” é assumido sem “apontar o dedo para julgar os outros”, mas no esforço de “procurar e cuidar dos casais feridos com o óleo da aceitação e da misericórdia”.
“Uma Igreja que educa para o amor autêntico, capaz de tirar da solidão, sem esquecer a sua missão de bom samaritano da humanidade ferida”, precisou.
Francisco falou do Sínodo como um “acontecimento de graça” para a Igreja, começando a sua intervenção a partir de três questões: “o drama da solidão, o amor entre homem-mulher e a família”.
A este respeito, recordou os efeitos da solidão, entre outros, sobre os que foram abandonados pelo seu marido ou a sua mulher, bem como sobre os migrantes e refugiados ou os jovens vítimas da “cultura do consumismo”.
Segundo o Papa, há cada vez “menos seriedade em levar por diante uma relação sólida e fecunda de amor: na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, na boa e na má sorte”.
“O objetivo da vida conjugal não é apenas viver juntos para sempre, mas amar-se para sempre. Jesus restabelece assim a ordem originária e originadora”, precisou.
A celebração reuniu cardeais, patriarcas, arcebispos, bispos e padres membros da 14ª assembleia geral ordinária do Sínodo, sobre o tema ‘A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”, que decorre até 25 de outubro.
A Conferência Episcopal Portuguesa tem como delegados D. Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa, e D. Antonino Dias, bispo de Portalegre-Castelo Branco.
A partir dos Açores, o responsável pela Pastoral familiar diocesana, num artigo publicado no Sítio Igreja Açores, lembra que “todo o mundo fixa o seu olhar de esperança e de fé em Roma, para que uma grande luz venha sobre a Família, sobretudo para iluminar os seus problemas maiores”.
O Cónego José de Medeiros Constância espera que “se dê agora uma boa práxis revolucionária em matéria de pastoral familiar”, que tenha em conta a “realidade concreta das situações reais” das famílias, retratadas nos relatórios e “que na reflexão e decisões sinodais surjam luzes de caminhos claros para a família na vida da Igreja como dom e tarefa , em estradas onde se veja concretizada a misericórdia como verdade revelada”.
“Necessitamos deste olhar novo e queremos fixá-lo na Palavra que iluminará as vidas apresentadas, constatadas e analisadas no Sínodo” diz o responsável.
O sacerdote pede ainda “o compromisso num caminho novo”.
“Não sabemos quais serão as orientações finais do Sínodo e as palavras orientadoras do Papa, mas esperamos serem de um compromisso novo, de todos, sobretudo de todas e cada uma das Igrejas Locais”, diz o Cónego José Medeiros Constãncia.
O Diretor Diocesano da pastoral familiar sublinha a importância “da dimensão da reconciliação” e do “discernimento e misericórdia” de forma a que se encontrem caminhos para que os “casais divorciados-recasados membros activos e militantes da sua fé, praticantes assíduos da Eucaristia, possam celebrar o Sacramento da Reconciliação / Misericórdia e comunguem o Corpo do Senhor, desde que estejam em processo de conversão continua. Bem pedimos que assim seja”.
“Queremos também fazer a defesa da vida, a abertura à vida , mas com a possibilidade também dos cristãos casados , de consciência bem formada, seguirem na pratica da moral sexual os métodos de regulação dos nascimentos que não sejam só os chamados naturais” diz ainda o sacerdote.
“O caminho eclesial deve ser aberto a todos, independentemente da orientação sexual que as pessoas tenham, para que numa vivência digna, com a prática cristã da Eucaristia e da Caridade termos comunidades cristãs paroquiais abertas que lutem pela justiça e pela paz, sobretudo nas periferias das nossas ilhas” conclui.