Pelo Cón. José de Medeiros Constância
Após dois anos e meio de caminho sinodal , com várias sinalizações , eis que de 4 a 25 de Outubro, se vai realizar, em Roma, a Assembleia Geral Ordinária dos Bispos com o tema : «A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo».
Todo o mundo, e neste toda a Igreja, fixa o seu olhar de esperança e de fé em Roma, para que uma grande luz venha sobre a Família, sobretudo para iluminar os seus problemas maiores.
A Assembleia do Sínodo dos Bispos em Outubro de 2014, como disse alguém, «não foi revolucionária mas evolucionária». Cremos que com o caminho de maturação teórica e prática se dê agora uma boa práxis revolucionária em matéria de pastoral familiar .
De qualquer maneira, destes nossos Açores, ultra-periféricos, mas da nossa Igreja Local, verdadeira Diocese como as outras , ouso lançar três olhares para o Sínodo de Roma para verificarmos, iluminarmo-nos e comprometermo-nos no campo das nossas famílias .
O primeiro olhar dos Açores para o Sínodo da família em Roma é um olhar de quem constata a vida das famílias ali . É verdade , em Roma , na sala sinodal : nas apresentações , nas análises e nos debates dos padres sinodais , dos casais ali presentes e dos peritos está a vida dos casais , famílias e pessoas de todo o mundo.
Eu quero , nós queremos ver mais uma vez nos relatórios a vida das nossas famílias e suas mudanças , os desafios que elas sofrem e as suas fragilidades e feridas. Tudo está ali.
Neste olhar, muitas pessoas, casais e famílias dos Açores estão ali misturados com as realidades de vida de gente de todo o mundo. Que se parta da vida, do verdadeiro da vida, das pessoas e das famílias em «situação» e em «situações reais».
Este é nosso olhar primeiro, lançado aqui de tão longe!
O segundo olhar dos Açores para o Sínodo da Família é de quem espera que a família seja verdadeiramente iluminada. Neste sentido, gostaríamos que o olhar do mundo inteiro e este nosso segundo olhar se cruzasse com o olhar sobre Jesus e a pedagogia divina na história da Salvação. É que queremos ver, de novo, de uma maneira clara, a família no desígnio salvífico de Deus.
Que este nosso olhar descubra na reflexão e decisões sinodais luzes de caminhos claros para a família na vida da Igreja como dom e tarefa , em estradas onde se veja concretizada a misericórdia como «verdade revelada».
Este olhar poderá trazer para a beleza das nossas ilhas a redescoberta da beleza da vida de tantos cristãos casados, o impulso, para que tantas famílias tenham um viver diferente e para que os jovens se coloquem em família e a constituírem famílias na beleza da fé em Cristo, rumo a uma plenitude feliz.
Necessitamos deste olhar novo e queremos fixá-lo na Palavra que iluminará as vidas apresentadas, constatadas e analisadas no Sínodo.
O terceiro olhar dos Açores para o Sínodo é para adivinhar e nos comprometermos num caminho novo de soluções novas nas famílias , com as famílias e pelas famílias.
Não sabemos quais serão as orientações finais do Sínodo e as palavras orientadoras do Papa, mas esperamos serem de um compromisso novo, de todos, sobretudo de todas e cada uma das Igrejas Locais. Assim pede o nosso terceiro olhar cheio de sonho e de esperança.
A nossa Diocese será chamada, com toda a Igreja , mas aqui no nosso meio próprio, a seguir um caminho pastoral a partir das famílias e pelas famílias que inclua todos a descobrirem a beleza do amor, do casamento e também a encontrarem respostas a todos os casos e situações difíceis. É todo o protagonismo da Pastoral Familiar 50 anos depois do Concílio Vaticano II.
Assim também, a Pastoral Familiar na dimensão da reconciliação, deverá, assim esperamos, através das instâncias oficiais próprias e sujeitas aos Bispos, considerar nulos todos os casamentos que na realidade não se deram por falta das verdadeiras condições. Quem sabe se não serão muitos?! Importa esclarecer e clarificar tudo com o devido rigor e colocar em paz e verdade tantas pessoas.
De seguida , queremo-nos comprometer num caminho diocesano de discernimento e misericórdia que sob a orientação dos Bispos e seus padres, conjuntamente com todos os casais cristãos, que vivem e praticam ; leve os outros casais divorciados-recasados membros activos e militantes da sua fé , praticantes assíduos da Eucaristia, a que possam celebrar o Sacramento da Reconciliação / Misericórdia e a comungarem o Corpo do Senhor, desde que estejam em processo de conversão continua. Bem pedimos que assim seja.
Queremos também fazer a defesa da vida, a abertura à vida e considerar o «Inverno demográfico» em que estamos; mas com a possibilidade também dos cristãos casados , de consciência bem formada, seguirem na pratica da moral sexual os métodos de regulação dos nascimentos que não sejam só os chamados naturais.
Finalmente , o caminho eclesial deve ser aberto a todos, independentemente da orientação sexual que as pessoas tenham, para que numa vivência digna, com a prática cristã da Eucaristia e da Caridade termos comunidades cristãs paroquiais abertas que lutem pela justiça e pela paz, sobretudo nas periferias das nossas ilhas.
Que este Outubro traga a toda a Igreja , e à nossa aqui nos Açores, a força de um novo olhar , a força da fé e do sonho dos nossos três olhares para o Sínodo da Família em Roma.
- Diretor do Serviço Diocesano da Pastoral Familiar, na Diocese de Angra