Por Carmo Rodeia
Ficámos a saber esta terça feira que Portugal gasta apenas 0,1% do seu Produto Interno Bruto com os cuidados de longa duração a pessoas com 65 ou mais anos. Habitualmente, são os familiares que cuidam dos idosos.
Segundo um estudo da Organização Internacional do Trabalho intitulado Long-term care protection for older persons: A review of coverage deficits in 46 countries (Protecção de longa duração dos idosos: uma revisão dos défices de cobertura em 46 países), o nosso país é dos menos “generosos” da Europa nos cuidados a longo prazo dos idosos.
O diagnóstico é claro: poucos profissionais especificamente dedicados a cuidar de pessoas com 65 ou mais anos e uma das despesas públicas nesta área mais reduzida entre 46 países do mundo dito mais desenvolvido.
O estudo calcula que faltarão mesmo 13,6 milhões de profissionais desta área para que se consiga atingir a cobertura universal dos idosos que vivem nos países analisados (80% da população mundial com 65 ou mais anos).
Os números tornam-se ainda mais chocantes quando comparados com outros países da União europeia. Por cada cem idosos, nós temos 0,4 trabalhadores enquanto que a Espanha tem 2,9 e a Noruega 17,1. Não seria tão grave se 90,4% dos nossos idosos não ficassem à mercê da sua sorte, sem qualquer tipo de cuidados, quando na Europa essa percentagem nem chega aos 30%.
Mas os números do Produto afeto aos cuidados dos idosos ainda conseguem ser mais impressionantes. Calculando o valor em euros que cada pessoa gasta com os idosos do seu país, as diferenças são incompreensíveis: em 2013, cada norueguês contribuía com cerca de 8400 dólares (7533 euros) para cuidados de longo prazo com qualidade para a população com 65 ou mais anos, enquanto cada português gastava apenas 136 dólares (117 euros).
Chocados? Pois… Estamos em plena campanha eleitoral, onde o slogan mais ouvido é o de que agora é que as desigualdades vão acabar; agora é que o combate à pobreza, à exclusão e à solidão, vai ser prioritário.
O papa Francisco tem chamado a atenção para isto. Uma sociedade que descarta as pessoas não tem futuro. Mesmo que essas pessoas já não sejam “rentáveis” e “produtivas”, no que estas palavras têm de mais ofensivo e indecoroso.
A diocese de Angra tem , a partir de hoje um Bispo Coadjutor, com direito a suceder a D. António de Sousa Braga quando resignar.
D.João Lavrador, na primeira mensagem em que se dirige ao “povo de Deus dos Açores” dá aos mais frágeis a sua prioridade. Onde se incluem, naturalmente, os idosos.
Temos uma população cada vez mais envelhecida, com poucas respostas concretas às suas necessidades mais elementares. Também nos Açores. Ainda assim, a igreja, através dos Centros Sociais e Paroquiais, só para falar de um exemplo, dá resposta a algumas destas necessidades. É preciso reinventar o apoio aos idosos.
Costuma-se dizer que os jovens são o futuro. Mas uma sociedade que não respeita o passado não tem futuro. Descartar os mais velhos é hipotecar o futuro.
Bem vindo , D. João Lavrador!